Laborum Meta

O efêmero,

o passageiro,

anos áureos,

amores,

preocupações ...

Laborum Meta

Das tuas obras, eu não as conheço. Fico aqui a olhar o teu leito derradeiro e a imaginar dentre as flores que te rodeiam agora, as tuas ações de outrora, teus risos, teus amores, teus desamores, tuas histórias, teus encantos e desencantos... tuas leituras. Teu rosto agora esquálido, já se ruborizou por uma piscadela insinuosa. Já gargalhou por um gracejo de criança. Tuas mãos agora cruzadas e imóveis, já se estenderam ao próximo, teus braços já afagaram outros braços e o teu olhar, olhar de vó, já emocionaram outros olhos. Ah, burguesinha portuguesa! Quais os segredos que levas contigo, fico a perguntar...!

Noventa e cinco primaveras e vinte e quatro horas de descanso velado. Quando será a minha vez? Será que passarei pelo sono?

...

O cortejo corteja, a sirene chora. Cinco carros, quatro coroas de flores, um punhado de pessoas, o choro doído, o riso destoado, uma desconhecida, alma pensativa. A última entrada, o último passeio, a nova morada, a placa – laborum meta. O silêncio, outros jazigos, a paz... vento nas árvores.

...

O coveiro bate a massa. Mistura areia, água, faz jus ao bíblico – “do pó viestes, para o pó voltarás.” Mas ele acrescenta o cimento, cimento sem vida... o caixão é levado ao seu lugar. O padre reza, benze, Adeus, Leonor!

Chego em casa... preparativos para festa. Hoje, minha sobrinha faz 1 ano.

Ysy Freire
Enviado por Ysy Freire em 16/03/2014
Código do texto: T4730846
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.