Laborum Meta
O efêmero,
o passageiro,
anos áureos,
amores,
preocupações ...
Laborum Meta
Das tuas obras, eu não as conheço. Fico aqui a olhar o teu leito derradeiro e a imaginar dentre as flores que te rodeiam agora, as tuas ações de outrora, teus risos, teus amores, teus desamores, tuas histórias, teus encantos e desencantos... tuas leituras. Teu rosto agora esquálido, já se ruborizou por uma piscadela insinuosa. Já gargalhou por um gracejo de criança. Tuas mãos agora cruzadas e imóveis, já se estenderam ao próximo, teus braços já afagaram outros braços e o teu olhar, olhar de vó, já emocionaram outros olhos. Ah, burguesinha portuguesa! Quais os segredos que levas contigo, fico a perguntar...!
Noventa e cinco primaveras e vinte e quatro horas de descanso velado. Quando será a minha vez? Será que passarei pelo sono?
...
O cortejo corteja, a sirene chora. Cinco carros, quatro coroas de flores, um punhado de pessoas, o choro doído, o riso destoado, uma desconhecida, alma pensativa. A última entrada, o último passeio, a nova morada, a placa – laborum meta. O silêncio, outros jazigos, a paz... vento nas árvores.
...
O coveiro bate a massa. Mistura areia, água, faz jus ao bíblico – “do pó viestes, para o pó voltarás.” Mas ele acrescenta o cimento, cimento sem vida... o caixão é levado ao seu lugar. O padre reza, benze, Adeus, Leonor!
Chego em casa... preparativos para festa. Hoje, minha sobrinha faz 1 ano.