Nas Entranhas do Ser, Valer

É estranha a solidão quando este é todo espaço que se tem. Falar de solidão é falar da falta humana, é considerar sua incompletude e ainda assim, a sua plenitude nas ondas da energia em que se faz, em que se torna ser. É nessa condição plena que tudo se pode. Aí o ser imaterial é naturalmente o ser material, porque vive o micro como um eterno retorno, uma infinita potencialidade de realizar-se e de consumir-se sabendo-se parte do grande outro. É aí também que consagra a falta em prazer de sentir-se parte e todo. Assim pode desejar.

Desejar é sentir a grandiosidade da fé. Só deseja aquele que crê. Não se poderia desejar sem a esperança da realização.É assim que apesar de todas as suas faltas os seres humanos conseguem espalhar belezas. Criar arte, na estética do puro sentimento. Este é seu veio de nobreza, de supremacia diante do belo. Espalhar belezas é refletir a luz, que torna possível o encontro com o belo. E assim esta beleza permite, encoraja, incentiva o homem a encarar a tragédia face a face. Por isto há prazer em tudo, até no sofrimento atroz.

Assim é aquecida e alimentada a fonte inesgotável de prazer do ser, e aí também está a nascente do bem, de perseguir o bem em detrimento do mal. O mal não se sustenta, não atinge a unanimidade porque há humanidade no ser.

Ser humano é persistir e acreditar no bem maior. Esta é a maior luta interior, e tem sido a maior vitória no querer, cuidar e proteger. A falta, que é o desamparo, não se deixa abater e a fé levanta o ser.Por tudo isto o ser humano às vezes arrebatado pela maldade é na sua maioria o resgate da essência do bem é esta a sua maior arte: viver e sentir a vida como o seu poema perfeito, o seu texto mais magnânimo, a sua escultura mais primorosa, a sua tela mais reflexa e delirante. Enfim todas as diferenças alcançam a mesma identidade porque todos carregam em si a capacidade de sentir e fazer sentir o belo.

In: ‘Nas Entranhas do Ser, Valer‘ prosa de Ibernise.
Barcelos (Portugal), 15MAR2014
Ibernise
Enviado por Ibernise em 15/03/2014
Código do texto: T4729501
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