abismal
era um tango sem bossa
era chama sem fogo
naquela ponte sem volta
daquele rio sem curso
em seu futuro sem tempo
numa lembrança sem dono
de alma sem vida
em lua sem noite
no dia sem outro
dum olhar sem brilho
da grávida sem parto
sob árvore sem sombra
daquele sol que não nasce
nessa brisa sem folhas
como mão que não conforta
neste inverno que não aquece
aquele vazio abismal