Borboleta
Pobre moça que padece de sofrer de ingratidão. Embora alegre, sei que segue na correria do mundão. Não teve tempo de escrever, nem para agradecer o milagre que agora narro, tão alegre de prazer.
Aconteceu em uma clara tarde, os pássaros a cantar, eis que passava bela; encantando até o mar. Assobiava seus dourados anos, a vida a curtir; na desfé sempre vivia, não se preocupava com o porvir. Era estudo, casa, amigos, festas, bem próprio da juventude, era como se eterna fosse, vivia sempre livre pela cidade. Seus velhos esquecia, não lembrando mais da infância. Fazia planos para o amanhã, condizente com a ganância.
Pensou em tantos mundos, em tantas opções, tinha tempo para tudo, mas esquecera das orações...
Retomando àquela tarde da qual eu lhes falava; infelicidade nunca é certa; mas aconteceu onde ela estava. Foi um carro desgarrado que a pegou por um acaso – tempo depois fiquei sabendo com detalhes todo o caso... A tristeza habitou seus dias a partir desta tarde. Como uma chama ardeu sua alma, com a ação de um ébrio, fraco, covarde...
Vários dias no hospital, a recuperar-se do ocorrido, era a frieza que fazia seu vigor ser corroído, que era dia a dia semeado da saudade de seus passos. Que ia pouco a pouco deglutindo a alegria de seus traços...
E o tempo foi passando, e o tempo fez-se amigo, oportunizou ficar mais com seus e também mais consigo...
Conhecendo muito mais, conheceu o que não conhecia até. Olhando as crianças que brincavam em seus risos, encontrou-se com a fé... Quis buscar saber mais, donde vinha a esperança prometida há tanto tempo por um Deus que se fez criança...
Os dias se passavam, em sua frente a natureza, era rica em sua composição, diversificada em beleza.
“Se o Pai faz muitos milagres, por que em mim um não faria?” Decidiu então pedir, ao Grande Deus, todos os dias... Era busca incessante, oração, fisioterapia. Buscou apoio também nos braços da Virgem Maria...
Eis que chego de onde parti, da minha humilde narração, pois ponho os meus versos a traduzir um privilegiado coração...
Eis que à sua frente passa uma linda borboleta, bate as asas intercalando cores preta e violeta...
Dá nela uma vontade de correr ao observar lindo inseto, que celebra a vida em plenitude em seu viver tão modesto...
Eis que uma perna se mexe, a outra a seguir, com os braços se apoia, com seu corpo a erigir...
O milagre se opera, desde então começa a andar, recupera como antes, sua beleza como o mar...
Os dias se sucedem, os amigos se reaproximam, se afasta pouco a pouco, dos que de coração a amam... dos quais quando está triste sempre a reanimam.
Na correria do dia a dia, esquece-se de orar. Agradecer é parar, e parar não quer pensar...
De braços abertos ficaram família, Deus e Maria. Eles não querem o mal da moça, e cada um deles diz “te amo, siga em frente minha filha!”.
(Marcio J. de Lima)