Sonho encantado de uma donzela caipira
Só porque sou donzela sou condenada
Mas eu não sou curpada
Eu sou assim porque sou fruto do prazer
Sou fruto da concepção divina
Eu sou uma luz proveniente da retina do olhar de dois amantes
Eu sou o oposto de ocê
Sou desse jeito, porque é desse jeito que eu gosto de cê
Sou pobre, mas no meu sonho eu também sou nobre
Não sou branca e nem sou preta, sou de uma outra cor qualquer
O importante é que eu sou verdadeiramente uma linda mulher
Simples, humilde, caipira
Mas de vez em quando eu também falo umas mentiras
Eu sou uma artista
Sou parte aqui deste cenário, e do imaginário de cada um do cês
Sou diferente dos burguês, assim como eles também são de mim
Na verdade eu sou sim, sou uma artista que veio da roça
Eu vim pra cá montada numa carroça, que mais parecia uma carruagem
Eu vim sonhando por toda viagem, sonhando que eu era uma princesa que vinha de uma aldeia distante, que vinha dormindo nos braços de um carroceiro barbudo e poeta cancioneiro
Pena que eu acordei antes da hora, por curpa de um galo que cantou ao romper da aurora
Não sei por que, mas gostaria que aquele galo não tivesse crescido,
Pois sendo assim, acho que meu sonho teria sido muito mais divertido
Fazer o quê, o bicho cresceu, não me encantou, mas cantou e o meu sonho se acabou
Só me resta agora, vorta pra casa dormi e torce pro cantador barbudo reaparecer, e o galo ser atropelado pelo cavalo antes mesmo do alvorecer