Desse Tamanho
Desse Tamanho
Como um viajante em múltiplos planos. Ai, ai, um país desse tamanho, não pode ser tacanho. As palavras que transcrevo são pra ficar em relevo. Em mim. Os amores que eu tive ainda permanecem em segredo. Ni mim. As coisas que aprendi foram para o patamar onde devem ser resgatadas para que eu possa reaprendê-las. Em miúdos trocados nada aprendi. Em casa existem dois cômodos, num é noite, noutro dia. Gosto de água encanada e prefiro que não furtem o aparelho de som. Os amores que eu tive gravaram em relevo.
As palavras que transcrevo são desse tamanho. Onde há contraste, há oportunidade, porém a matriz de consciência entorpecida desentende esse fato.
Gosto da idéia de durar muitos e muitos anos, de me expressar com liberdade, gosto de ver em certas mulheres a estranha atitude de dignidade e graça dos tempos antigos.
As coisas que aprendi foram compartilhadas com os amores que eu tive inda que num decanato ou noutro ninguém se entendesse.
Um país desse tamanho, não pode ser com-ple-ta-men-te obsceno. Devem existir manchas claras, áreas iridescentes, caminhando à frente, clareando ao redor, mais e mais. Desse tamanho a obviedade do que vem a seguir: a ira contida, a indignação sublimada, meus planos submersos, os desapontamentos descidos goela à dentro sem mistura, molhos ou condimentos. Ah, os medos estão próximos. A esperança parece uma sombra e como tal, não consigo agarrá-la.
Fico pensando quantos de nós chegarão ao futuro ruminando: poderia ter feito melhor. Individual e coletivamente dizendo.
E quantos de nós não serão assombrados pelos natais vindouros.
Melhor me livrar do futuro, inútil manter o que não me pertence. Mas no agora, como um viajante que gostaria de ter pulado umas etapas e noutras permanecido vezes sem conta, vezes sem conta conto os dias ensolarados, a água salgada, risos de crianças, prantos equivocados, uma inveja só percebida depois, almoços de domingo, caminhadas ao entardecer, um ciúme difícil de largar, a luz da manhã na vidraça do colégio, a ducha de água doce com direitos posteriores a lençóis limpinhos e uma refeição cujo aroma até hoje é sentido, suor ao meio dia, desconfortos noturnos, a certeza de que vai dar certo, vai dar certo, o vislumbre de um novo projeto numa madrugada fria, gente de mãos dadas, a praia longínqua, brincadeiras sem maldade, a palmeira longínqua, a primeira visita a um lugar desconhecido, uma pessoa acena de longe, uma ajuda inesperada, gargalhadas cafajestes e saudades indigestas, o carro estacionado e alguém descendo dele para me dar um abraço, visitas ao hospital com o coração apertado mais as flores no cemitério, quantos vultos, oh céus, o vulto na escada, uma vida desse tamanho às vezes fica deslocada.
(Imagem: Miniatura by Slinkachu)
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Como um viajante em múltiplos planos. Ai, ai, um país desse tamanho, não pode ser tacanho. As palavras que transcrevo são pra ficar em relevo. Em mim. Os amores que eu tive ainda permanecem em segredo. Ni mim. As coisas que aprendi foram para o patamar onde devem ser resgatadas para que eu possa reaprendê-las. Em miúdos trocados nada aprendi. Em casa existem dois cômodos, num é noite, noutro dia. Gosto de água encanada e prefiro que não furtem o aparelho de som. Os amores que eu tive gravaram em relevo.
As palavras que transcrevo são desse tamanho. Onde há contraste, há oportunidade, porém a matriz de consciência entorpecida desentende esse fato.
Gosto da idéia de durar muitos e muitos anos, de me expressar com liberdade, gosto de ver em certas mulheres a estranha atitude de dignidade e graça dos tempos antigos.
As coisas que aprendi foram compartilhadas com os amores que eu tive inda que num decanato ou noutro ninguém se entendesse.
Um país desse tamanho, não pode ser com-ple-ta-men-te obsceno. Devem existir manchas claras, áreas iridescentes, caminhando à frente, clareando ao redor, mais e mais. Desse tamanho a obviedade do que vem a seguir: a ira contida, a indignação sublimada, meus planos submersos, os desapontamentos descidos goela à dentro sem mistura, molhos ou condimentos. Ah, os medos estão próximos. A esperança parece uma sombra e como tal, não consigo agarrá-la.
Fico pensando quantos de nós chegarão ao futuro ruminando: poderia ter feito melhor. Individual e coletivamente dizendo.
E quantos de nós não serão assombrados pelos natais vindouros.
Melhor me livrar do futuro, inútil manter o que não me pertence. Mas no agora, como um viajante que gostaria de ter pulado umas etapas e noutras permanecido vezes sem conta, vezes sem conta conto os dias ensolarados, a água salgada, risos de crianças, prantos equivocados, uma inveja só percebida depois, almoços de domingo, caminhadas ao entardecer, um ciúme difícil de largar, a luz da manhã na vidraça do colégio, a ducha de água doce com direitos posteriores a lençóis limpinhos e uma refeição cujo aroma até hoje é sentido, suor ao meio dia, desconfortos noturnos, a certeza de que vai dar certo, vai dar certo, o vislumbre de um novo projeto numa madrugada fria, gente de mãos dadas, a praia longínqua, brincadeiras sem maldade, a palmeira longínqua, a primeira visita a um lugar desconhecido, uma pessoa acena de longe, uma ajuda inesperada, gargalhadas cafajestes e saudades indigestas, o carro estacionado e alguém descendo dele para me dar um abraço, visitas ao hospital com o coração apertado mais as flores no cemitério, quantos vultos, oh céus, o vulto na escada, uma vida desse tamanho às vezes fica deslocada.
(Imagem: Miniatura by Slinkachu)