JÚLIA OLHA PARA AS ESTRELAS
NA MADRUGADA... NO INÍCIO DA MANHÃ DE 11 DE MARÇO DE 2014
Júlia se sente só. Olha para as estrelas e se sente sem assunto. Júlia pensa nas marés do outro lado do Atlântico. Júlia pensa em uma "ciudad" na Espanha. Júlia se imagina com castanholas. Júlia pensa em um livro que nunca será escrito. Júlia não ousa se olhar no espelho. Júlia persegue um sonho jovem na madrugada. Um jovem sonho de brancos cabelos. Júlia sonha-se 25 anos mais jovem, a mulher que ele conheceu. Júlia está 25 anos mais velha. O que será que ele pensa, assim do outro lado do Atlântico? Talvez não se lembre de mais nada.
Júlia olha as estrelas. As flores da paineira, quase invisíveis no âmago da noite.
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Júlia tomou duas taças de vinho. Vinho argentino. Foi se deitar. Dormiu pouco, como sempre. Agora, na sala, diante do computador sem presente. Um computador sem presentes. Lembra-se do tempo em que foi a turca. Ele se ergue, alto, esguio, toma seu mate diante da janela da qual se avista o mundo. Da qual se avista o mundo.
Lembra-se do tempo em que foi a turca. É quase manhã. As estrelas... daqui a pouco vem o sol. Júlia se lembra do tempo em que foi a turca. Olha as flores da paineira no comecinho da manhã.
Como está o homem que, no pensamento de Júlia, toma seu mate diante da janela da qual se avista o mundo? Bastaria uma palavra de Júlia... uma palavra... Júlia, onde a palavra de Júlia?
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Júlia o vê na praça, seu marinheiro de há uma vida. Ele não pode vê-la, a praça é invisível, está só no pensamento de Júlia. Júlia tem medo por ele, por ele que não se comunica, não dá um único sinal. Júlia tem medo. São quase seis horas da manhã e Júlia, que dormiu pouco, como sempre, escreve. O marinheiro de antigamente... Júlia precisa dar um telefonema. Na quase manhã a paineira já muito florida. Antes do outono. As estrelas estão invisíveis. Júlia tem medo. Júlia sabe que precisa telefonar.
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A mãe de Júlia dorme, inocente desta solidão que se ergue da sala, dos livros, das lembranças, dos medos, de tudo. A mãe de Júlia dorme, inocente de tudo. As flores da paineira vão se tornando mais nítidas. A manhã não demora a chegar na sala de Júlia. Lá fora, já começou faz tempo, que a vida não para lá fora. Lá fora. Não para. Nunca. Nunca para. A manhã acorda para mais um dia... para mais um dia... mais um...
A mãe de Júlia continua a dormir, inocente de tudo.
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