Os Carnavais
Sem querer parecer saudosista, pois este não é o meu desejo; porém
não há outra forma de se falar na mudança de costumes.
Por instantes peguei-me cantando, mentalmente, um refrão outrora contagiante e conhecidíssimo: "Eu tenho uma irmã que se chama Ana, de tanto piscar o olho já ficou sem a pestana".
A verdade deste refrão e ato impensado e tão necessário, sem o qual nossos olhos não se lubrificariam, mudou com os tempos.
Antes, durante as matinês ou bailes carnavalescos de gala. Eles não paravam, sempre vigiantes; contornando o salão em descontraída alegria, piscando sem parar, acompanhando o coro de forma lúdica e satírica.
Os foliões nem se preocupavam em vigiar seus pertences que ficavam sobre as mesas, enquanto dançavam.
Hoje, como observei recentemente, as marchinhas nem mais são lembradas, pois as crianças não as suportam e as trocam pelo som
sensual e chacoalhante de sua geração. As filas indianas que corriam salão adentro; provocando risos inocentes e brincalhões, pois exigiam
atenção e sincronia dos foliões em ziguezague, foram substituídos pelo agarra-chuta-e-puxa da garotada, das multidões da avenida ou corre-corre dos arrastões.
Então, tento acionar minha "Bola de Cristal", tal uma cigana despretensiosa e cheia de muito boas intenções.
E não consigo.
Ela reflete uma luz tremulante e frágil e não me aponta nenhum horizonte ;
Em minha mente fica um grilo insistente a perguntar:
- Como será o Carnaval do Futuro?
Pelos meus cálculos, talvez eu não chegue aos duzentos ou trezentos anos, mas se alguém souber me responder, estarei pronta a
a escutar.