Efemerides

Foi a época mais idiota de toda minha vida, e a mais feliz de todas elas, eu lembro que ela tinha os olhinhos puxados e o sorriso na frente era torto, era branca como um pedaço de papel, e eu adorava vê-la bronzeada, tinha os cabelos mais bonitos que eu já vi, pareciam aqueles cabelos que colocam em bonecas, disputavam o brilho com o sorriso e os olhos dela quando ela me olhava, lembro de quando surgia uma piada só nossa e nova, e de um riso divertido que era duradouro e nos fazia até ficar entorpecidos, 10 min antes de dormir, quando já estávamos um pouco entorpecidos um de olhar pro outro, e ela ficava por sobre meus braços que aguentavam qualquer calor ou aperto por um sentimento absurdo e inominado que me faria aguentar qualquer dor por ela, foi com certeza um momento grande na minha vida tê-la a cada vez que eu tinha algo importante na minha vida, e ela era tão presente quanto desejosa, e torcia por mim a cada momento, fui criança e adolescente ao seu lado, e fui adulto repentinamente ainda quando estava com ela, era somente meu ponto de partida e eu esqueci disso, foi-se pra trás assim que o pé desencostou do pier, me encontro a 800km da costa e não vejo mas um ponto de partida de ninguém, tampouco o meu, vejo o mar por onde o meu barco navegava e navegou, ao meu redor o que as águas que estão passando, são como estáticas pra quem está num barco e indiferentes demais a quem está na terra vendo o barquinho partir, mas tanto mar que há a frente, sou salvo do presente pelos lapsos de memória do passado, e consigo imaginar um futuro sem ou com memória, mas não consigo imagina-lo sem lembrar do que passou.

Clóvis Correia de Albuquerque da Rocha
Enviado por Clóvis Correia de Albuquerque da Rocha em 01/03/2014
Código do texto: T4710859
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