E o que me sobra?
Algo diferente me rouba os minutos. Tomados de dez em dez, de vinte em vinte... Sequer os percebo ir embora. Não tenho comigo as minhas caras. Descansam num canto qualquer. Agora sou só eu. Vigio distante. Acordo. Recordo. Festejo em mim memórias de um tempo que não vivi. Lembranças de um futuro a construir. E a gratidão pelas honras que não são minhas me encontram só. Sem solidão. Gozo da minha só companhia. Aquilo que me sobra não tenho. Não me surpreende a loucura. Como se já a houvesse vivido. Como se fosse previsível. E como soubesse. Me entrego. Forte o desejo de se pertencer sobretudo. Ser de si. Aprender sem medo. Voar por voar em liberdade. Nu de alma. Nu de corpo. Agora sem máscara, é meu rosto que ondula. E divide com a lua o espaço sobre o rio da incerteza. Amanhã será diferente?