Diálogos saudadeantes da madrugada...

-Não trata-se de mim...

-Trata-se de quê então?

-Eu não sei. Aliás, acho que sim... Bem, trata-se de saudade, de não poder estar perto, de não poder sentir seus olhos encarando-me, fazendo-me sentir-me sem graça...

-Sabe como se trata isso?

-Não. Nem almejava cogitar haver tratamento para tamanha dor.

-Pois tem, Pequena. E digo-te que não é com remédio que se cura. Saudade trata-se com presença. Presença esta cheia de amor, carinho, afeto, afago, ternura, anelo.

-Mas é justamente isso! A presença não está presente! Esta é a causa da minha dor. Entenda-me!

-Entendo-te. Mas acalma-te! As lembranças não lhe sobrevêm?

-A todo tempo.

-Acalenta-te na presença de tuas lembranças, enquanto fechas os olhos. E quando os abrires novamente, sentirás que tudo não passou de um pequeno acelero no coração. Quando abrires os olhos, os olhos que tu tantos amas, estará lá, bem na tua frente. E estarás a te olhar, e admirar tudo o que tu me confessas neste momento. E te confessará também, então, que o mesmo desejou-te também em seus dias.

-Eu não sei se consigo...

-Sabe porque tu conseguirás? Porque o que tu carregas no peito pode conseguir qualquer um dos teus anseios...

-Tens razão. Mas me diz, solidão minha, pode você dar um recado ao meu amor, por mim?

-Diga-me, Pequena. Darei a ele o teu recado.

-Diga-lhe que eu não sabia que ele poderia ser tão cruel comigo. Ele me chama de Pequena, ao me expressar carinho. Mas pequena mesmo é somente a minha paz, por ele não estar perto, neste momento. Diga-lhe que o espero e o anseio como a mais valiosa água no deserto. Como o mais precioso cobertor em noites de inverno. Como a mais saudante flor perto da primavera. Diga-lhe também que tenho coisas que não posso dizer-lhe por recado, mas que quando ele chegar, ouvirá pelo som do coração.

-Digo-lhe sim, Pequena. Algo mais a dizer-lhes?

-Sim, solidão minha. Diga-lhe também que o amo. Muito.