Dia de Girassol
O dia de girar sol não pareceu um dia especial.
Logo de cara não dava para se perceber.
Mas era.
Era para girar o sol, a lua, estrelas e o universo todo, dentro de nós.
De repente o que antes parecia simples retalhos se transformou numa linda colcha.
E a vida floriu a retratar-se naqueles panos.
Recortes tão pequenos que não davam pra mangas sequer.
Mas sim foram suficientes.
Era como um limão que se fez limonada,
Um giló na farofa de leitoa,
Amargo sim, mas naquele prato, naquele momento
Um saboroso complemento.
E assim foi com aqueles quase trapos...
Se transformaram numa manta para colorir e aquecer os nossos corações.
Num tempo que já não era pra ser e foi.
Como uma velha videira que reúne a todos, não se cansa de vindimar.
Como uma festa humilde, que sempre recebe com carinho, mais um.
Quando o afeto é pleno de graças, em todo lugar há acolhida.
E a colcha refletia cores e era admirada.
Mas as mãos da artesã não estavam satisfeitas.
E desenhou quadro a quadro e começou a bordar aquele artefato
Que já estava tão lindo e aconchegante.
Houvera de ficar melhor, pensara.
E bordou com os próprios fios das fazendas que sobraram.
Foi então que uma amiga próxima curiosa perguntou:
_Estás a aproveitar até os fios?
E ela respondeu:
_Para construir o belo, qualquer fragmento de beleza serve.
Porque o fragmento sugere separação e distância,
Contudo o real que é belo,
Mesmo nas partes separadas,
Contém o desejo de união.
Desejar unir-se é sentir saudade.
E as partes que sentem saudade
Por tanto se desejarem, já estão em si contidas.
Assim o sentido do belo
Já existia nos retalhos e nos fios coloridos
Antes mesmo de se unirem e se transformarem
E se tornarem prazer no uso reconfortante, no olhar deslumbrado,
Na proteção contra o frio,
Na ornamentação de cada vida...
In: ‘Dia de Girassol’ Prosa de Ibernise. Barcelos (Portugal), 22FEV2014
O dia de girar sol não pareceu um dia especial.
Logo de cara não dava para se perceber.
Mas era.
Era para girar o sol, a lua, estrelas e o universo todo, dentro de nós.
De repente o que antes parecia simples retalhos se transformou numa linda colcha.
E a vida floriu a retratar-se naqueles panos.
Recortes tão pequenos que não davam pra mangas sequer.
Mas sim foram suficientes.
Era como um limão que se fez limonada,
Um giló na farofa de leitoa,
Amargo sim, mas naquele prato, naquele momento
Um saboroso complemento.
E assim foi com aqueles quase trapos...
Se transformaram numa manta para colorir e aquecer os nossos corações.
Num tempo que já não era pra ser e foi.
Como uma velha videira que reúne a todos, não se cansa de vindimar.
Como uma festa humilde, que sempre recebe com carinho, mais um.
Quando o afeto é pleno de graças, em todo lugar há acolhida.
E a colcha refletia cores e era admirada.
Mas as mãos da artesã não estavam satisfeitas.
E desenhou quadro a quadro e começou a bordar aquele artefato
Que já estava tão lindo e aconchegante.
Houvera de ficar melhor, pensara.
E bordou com os próprios fios das fazendas que sobraram.
Foi então que uma amiga próxima curiosa perguntou:
_Estás a aproveitar até os fios?
E ela respondeu:
_Para construir o belo, qualquer fragmento de beleza serve.
Porque o fragmento sugere separação e distância,
Contudo o real que é belo,
Mesmo nas partes separadas,
Contém o desejo de união.
Desejar unir-se é sentir saudade.
E as partes que sentem saudade
Por tanto se desejarem, já estão em si contidas.
Assim o sentido do belo
Já existia nos retalhos e nos fios coloridos
Antes mesmo de se unirem e se transformarem
E se tornarem prazer no uso reconfortante, no olhar deslumbrado,
Na proteção contra o frio,
Na ornamentação de cada vida...
In: ‘Dia de Girassol’ Prosa de Ibernise. Barcelos (Portugal), 22FEV2014