A Invenção do Carnaval
Um dia um índio tupi, desses que tiveram sua terra estuprada pelos portugueses lá nas bandas do Rio de Janeiro, na época de Cabral, decidiu brincar de faz de conta, e pensou:
"Faz de conta que estes europeus imundos, mais sujos que porcos não chegaram até aqui. Faz de conta que a minha terra "brasilis" ainda preserva a sua mata virgem e que não estão usurpando do nosso pau-brasil. Faz de conta que estes brancos não estão levando nossas mulheres e filhas para suas cocheiras a noite e fazendo com elas o que bem entendem. Faz de conta que não estão nos escravizando, nos relegando ao aculturamento forçado. Faz de conta que ainda podemos clamar por Tupã sem sermos acoitados para adorarmos o deus pregado na cruz que veio de um lugar que nem sei pronunciar o nome. Faz de conta que esses padres jesuítas não estão interessados na nossa riqueza, mas só na salvação das nossas "alminhas" para o reino...de quem mesmo?
Faz de conta que ainda posso ser índio, e ainda posso conversar com Caramuru e pedir seus conselhos. Faz de conta que posso consultar o meu pajé e lhe pedir que exerça sua magia para me curar. Faz de conta que ainda posso ser quem posso ser, faz de conta....".
Assim, no dia 22 de fevereiro de 1501, quase um ano depois do "descobrimento" do Brasil nasceu o carnaval, de um índio tupi, desses lá das bandas do Rio de Janeiro. Nasceu de um faz de conta que tivesse o condão de esconder que os moradores desta terra estavam sendo estuprados em sua alma. E até hoje o carnaval é tradição, afinal, nunca deixaram de fazer com o povo brasileiro o mesmo que fizeram com aquele saudoso índio, o mesmo que é feito num cabaré com uma puta.
VIVA O CARNAVAL!