RETINAS DO SENTIR-SE

Aos doces felinos de casa (e aos da rua), por seus olhos vítreos, tímidos e esperançosos de afagos, inspirado nos quais aumenta a perplexidade frente aos inesperados caminhos. Em mim, os gatos são sempre estranhos cúmplices. O inusitado e o intempestivo habitam nos seus olhares... Através de minhas lentes, o que vejo é a mera representação do real, acrescido do que sinto. Aliás, o todo se constrói por vários olhares. Pressinto neles o andar sorrateiro do Absoluto, que se esconde nas ganas de sentir o que ninguém vê e por isso mesmo, para muitos, inexplicavelmente existe... As retinas do sentimento funcionam em mim como luz e bálsamo. Talvez com a similitude mansa dos felinos domésticos, quando não assustados ou nos telhados, no cio de suas unhas...

– Do livro O AMAR É FÓSFORO, 2013/14.

http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/4696403