tarde
não sei por que não sei dizer de sentimentos
com a cara limpa das palavras
sem as máscaras das metáforas
as vezes busco-me no interior
para encontrar o que provoca
a apreensão da clareza coloquial
e quando vou fundo percebo porque
não a utilizo; vejo-me entregando
sentimentos em atos;
é como se somente palavras
não bastassem
para a veracidade do meu sentir...
e isso também me faz tremer, amedrontada,
com outra percepção;
habita-me, também, sentimentos
irracionais – aprisionados, mas
indomesticáveis - camuflados num recôndito
escuro aguardando o momento
exato para vir à luz...
e retorno correndo pro meu lado
racional, ignorando a fera que dorme
do outro lado...
e lendo o que foi escrito acima,
percebo que está (ainda) carregado de metáforas...
e pensar que iniciei a introspecção
no momento em que queria escrever, sem tapumes,
que a tarde chegou trazendo lembranças de outras tardes
quando experimentava palavras
para dizer que te amava