Sensações
Sensações
E boia no tempo uma certa delicia lenta e o olho vaga num verde musgo úmido pelos orvalhos que agora parecem chover. Da lua, uma luz insistente e cândida, que desce como se subisse e sobe derramando-se por sobre folhas que dançam calmamente. Como está calma esta madrugada! é assustadoramente bonito ver a cara deste silêncio melodioso.
_ Onde será que mora a imensidão?
Eu não sei explicar! mas eu sei onde ela mora, e conheço bem a temperatura donde ela dorme agora. Aconchegada entre um peito e um lençol branco, alvo como é alvo o sentir de um poema. Fico a imaginar se sonha, com o que sonha, e se lembrará deste sonho amanhã. Caminho descalça pelo verde do chão que a esta hora gela devagar...
gela como gelam alguns corações por ai, não o meu, o meu jamais! ele tem sempre uma lareira acesa, e eu gosto muito de ficar lá com ele conversando sobre coisas que não vou dizer-lhes agora, quem sabe um dia eu diga, ou talvez só diga numa determinada noite quando tudo me parecer mais tateável. Hoje eu degluto só este doce encantamento que me invade, não posso dizer que o nome seja felicidade, creio que não chegue a tanto. É mais parecido com aconchego...
_ sabes?
sei lá...é como se eu estivesse neste instante sentindo só abraços. Só abraços...
Abraços de teus braços que eu conheço tão bem, que até posso sentir-lhes o perfume e a pele, pele inteira que caminha por todo o teu eu, dentro e fora, como um rio de sensações. Costuraram o fim do teu corpo em tuas mãos sabias? olha para elas, tem pontos ai. Muitos pontos aliás, uma chuvinha de reticências, viu?
É, hoje eu estou assim, um pouco mais de mim. Gostoso isto!
Carregando no colo um morno, quentinho mesmo aqui, está bom. E quando digitei quentinho me deu vontade de tomar mais uma xícara de café, e depois eu argumento com um riso bobo: Não sei porque esta insônia me persegue! mas ora ora...só pode não é?
eu amo o silêncio das madrugadas, amo o clima de meu terraço depois das duas da manhã, e sou apaixonada por café e poesia, no que poderia dar esta mistura não fosse insônia? Dormir para que?! se eu adoro sonhar acordada nestas horas, ah...essas horas de silêncio absoluto! apenas adornadas por uma melodia ou outra são deliciosas!
_ Onde você está agora? está bem, eu sei que dormes, mas pergunto onde está de verdade? será que tua alma passeia por algum lugar tão bonito quanto este? será que estás aqui?
_ hum?! é você?! Nossa que alegria revê-lo...que perfume é este? mudou?
Tudo bem, está tudo bem meu querido, deita ai na rede que depois vou deitar com você, mas agora eu ainda preciso terminar de costurar umas estrelinhas que caíram e se machucaram em umas retinas. A linha de um prata cintilante está quase no fim, tomara que eu consiga dar pontos perfeitos nessas fissuras estelares, afinal... o céu jamais perdoa os descasos ou as coisas feitas apenas por fazer. O céu só admite o claro e o escuro, muito pouco ou nada além disto.
Hoje eu vi o laranjal e nele havia mais fruta madura que verde, naquela hora em que ouvi tua voz, eu estava revoando sobre ele, pairei no ar só para ouvir-te e depois adormeci entre o galho de um ipê e as nuvens que soprastes. Desde aquela hora até agora teu perfume veio com elas e me disse que não iria retornar, então o guardei perto da lareira. Ando envolta em cheiros, aromas que mesmo desconhecendo, reconheço profundamente.
_ Nossa, já dormistes? ah...sonha meu amor.
Márcia Poesia de Sá.