Naquele momento insólitoNaquele momento insólito
Naquele momento insólito estive só, e quis mesmo estar só. Eram tantos afazeres, preocupações, medos e desgastes. Tantas coisas jamais pensadas. Houve o constrangimento, a comoção, a força que Deus me permitiu ter.
Em um segundo momento, e já mais conformada, continuei só e quis estar só. Isolar-me do mundo em minha concha negra de emoções contidas e poucas forças, desesperança e pena de mim mesma.
Em um terceiro momento, fiquei só e quis ficar só, tinha forças apenas para o essencial. Lá estava eu, longe de todas as coisas que amava fazer e dedicada apenas às coisas que sempre me incomodaram durante toda a minha vida: cuidar da casa e da saúde alheia.
Em um quarto momento, estive só e desejei estar só. Entreguei-me ao cansaço e ao isolamento, e restaram-me poucas pessoas com quem quis conviver.
Em um quinto momento, busquei algumas pessoas e outras me procuraram. Já não estava só, nem mesmo queria. Ainda que eu não esteja pronta para multidões ou alvoroços, desejo companhia.
Existe uma mágoa a corroer o cerne. Impura, perversa ou agressiva – não sei bem. Perturba-me e me faz agonizar.
Este texto (um desabafo momentâneo que Deus levou em nome de Jesus)
foi escrito depois que meu pai teve ACV e minha vida ter virado de cabeça para baixo.