Do que bate à tua porta

A rotina e o acaso lembram que há muito a ser feito e que as possibilidades são infinitas. Mas em tanta infinitude, corre-se o risco de esvaziar-se de si mesmo.

Não quer mais ser tantos; quer apenas ser um só. Quem deveria ter sido, quem deve ser.

Na sala, só lhe resta tomar um café e olhar para o relógio.

Pede para que o tempo passe, para que o ponteiro acelere e que um novo dia chegue. Mais leve, mais azul.

Sorri lembrando das boas memórias, do que lhe acalmou a alma.

Suspira em silêncio à procura de algo que já não está mais ali.

Não há melancolia. Em tua casa, a alegria e a tristeza dividem o mesmo teto.

Meu bom amigo, não consegues ver?

De nada adianta. Teu passado é miragem; é intocável. Não pode ser mudado.

Perdoe a si.

Limpe aquilo que deixastes sujo. Livre-se desses livros usados. Coloque a música que tanto te agrada.

O que bate à tua porta todos os dias, se não saudade?

E lá vai essa tua fé que já caduca abri-la novamente...