Em Memória Do Poeta
Os homens recordar-se-ão um dia do absurdo da minha partida.
Hoje me vou de cabeça baixa, amargurado.
Mas a quem pertencerá a vitória no porvir?
Hoje sou estrela que por hora se apaga, mas sabendo
que, após a tempestade, o sol há de brilhar novamente.
Enterrar-me-ei agora para transformar-me em semente.
_ Querem acabar com o poeta e para tanto,
não cessam de escarnecer de suas obras.
_ Mas, por que querem matar esse grande artista?
_ Meu amigo, não sabes que o talento incomoda, e que a palavra desperta, motiva ou ainda, faz pensar?
Em verdade não querem a morte do nobre poeta;
querem é calar de uma vez por todas, a voz da sua poesia.
_ Mas dia desses vi o colega sendo aclamado nos braços do povo.
O que teria provocado no seio do populacho mudança tão repentina?
_ Ah, o povo é maria vai com as outras, fácil de ser manipulado.
_ E por onde andas o desventurado?
_ Preparando para si um pomposo funeral, pois prefere a dignidade de uma mortalha, a ter que ver a sua poesia cair no ostracismo.
_ Pobre homem! Por que fora assim desgraçado?
_Não meu amigo, pobres desgraçados são aqueles que pensam poderem matar a arte, difamando e fazendo calar a palavra eloquente de um de seus intérpretes.
Trago cá comigo os últimos versos do poeta:
“Assassinos, assassinos! Quem vos dera poder calar a voz de todos os poetas a fim de que os homens parem de sonhar, e como máquinas, reconheçam-se apenas no direito de trabalhar; mas eu vos afirmo que hão de surgirem novos poetas, trazendo de volta os sonhos, o amor, a liberdade e a sublime beleza da arte; e um destes lembrar-se-á então de resgatar minha poesia das sombras”.