O alvéolo de amar

No início era a larva

Depois, o verbo

No casulo da saudade

Asas tecidas por fios de seda

Tomaram a forma de algo...

Não, não era ainda borboleta

Passados dias,

Entre espera nas janelas

De um casarão semidestruído

A donzela desesperada por amar

Catava nas ladeiras a imagem desejada

Ah, o amor...

Quase embrulhado para presente

Nas fantasias casulares

Sem sentido, sem razão alguma

Mas nobre pelo poder de se estabelecer sozinho

Os anos seguiram

A jovem, então bela, assustava-se com os sinais da idade

Nem uma carta

Nem um aviso

Somente a falta do que, talvez, pudesse ter sido

Um dia, cansada,

Após pentear os cabelos alvos

Da janela empoeirada

Bem do alto

A mulher, quase larva,

Precipitou-se num salto

Borboleta caída no chão de pedras

Gente aos montes

E ela, com sua maturidade,

Vendo tudo lá de cima

Sem ser notada, sem,

como pensava, ter sido amada

Um senhor, velhinho e manco,

Chegou perto e alisou a fronte fria da morte

- Meu amor, só pude vir hoje

Tranquila, feliz e descansada,

A borboleta partiu

Porque, sabia, só duraria um dia...

não mais.

Iza Calbo
Enviado por Iza Calbo em 14/02/2014
Reeditado em 23/10/2022
Código do texto: T4691049
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.