O alvéolo de amar
No início era a larva
Depois, o verbo
No casulo da saudade
Asas tecidas por fios de seda
Tomaram a forma de algo...
Não, não era ainda borboleta
Passados dias,
Entre espera nas janelas
De um casarão semidestruído
A donzela desesperada por amar
Catava nas ladeiras a imagem desejada
Ah, o amor...
Quase embrulhado para presente
Nas fantasias casulares
Sem sentido, sem razão alguma
Mas nobre pelo poder de se estabelecer sozinho
Os anos seguiram
A jovem, então bela, assustava-se com os sinais da idade
Nem uma carta
Nem um aviso
Somente a falta do que, talvez, pudesse ter sido
Um dia, cansada,
Após pentear os cabelos alvos
Da janela empoeirada
Bem do alto
A mulher, quase larva,
Precipitou-se num salto
Borboleta caída no chão de pedras
Gente aos montes
E ela, com sua maturidade,
Vendo tudo lá de cima
Sem ser notada, sem,
como pensava, ter sido amada
Um senhor, velhinho e manco,
Chegou perto e alisou a fronte fria da morte
- Meu amor, só pude vir hoje
Tranquila, feliz e descansada,
A borboleta partiu
Porque, sabia, só duraria um dia...
não mais.