NOSSO CIRCO
A primeira vez eu te vi foi...num bar!
Olhos chocados se cruzaram,
Chamaste-me: - "Vem cá!"
Coração apressadinho disse:
- "Eu vou!"
Mente velha conselheira disse:
- "Não vá..."
Mas o coração quando bate alto
Não ouve a razão
E quando pediste a chave dele de supetão,
A mente perdeu a senha do cadeado
Revirou os olhinhos lamentando:
-"Ah, o circo está armado!"
Assim, por muitos e muitos anos
Nosso circo mambembe viajou
Pelos quatro cantos da ilusão
Perdido no tempo e nas brumas da imensidão.
Agora, a carroça se quebrou ,
A lona velha, rôta, suja se rasgou
O trapézio despencou com a mulher gorda barbada
Que caiu bem em cima da bela bailarina tatuada
Ela! Que pulava alegremente nos corcéis desembestados
Destruindo o picadeiro, pisoteando palhaços abestalhados
E a malabarista, coitada, rodopiava tentando em vão não quebrar os pratinhos!
Disparou o coração da plateia estarrecida:
Olhando paralisada, atônita e boquiaberta
O leão escapar da jaula
E devorar o mestre de cerimônias
Que açoitava o elefante com o prazer do chicote.
E aí?
Nada restou deste circo.
Nada que valha a pena ser lembrado
contado, escrito ou entoado
Pois a cúpula de um circo só pode ser hasteada
Quando toda a estrutura estiver realmente armada.