O Garoto e a Borboleta
Se perguntada, a borboleta não saberia responder como ou porque, dentre todas as possibilidades, escolhera as mãos daquele garoto para pousar.
Acontece que, depois de um voo longo e solitário, desejou a sublime companhia e o calor de outra criatura, e por destino ou sorte, acabou por encontrar aquele estranho garoto no meio do caminho. Talvez tenha sido aquele seu olhar perdido em pensamentos que a encantara. Talvez tenha sido o calor reconfortante de suas mãos ou o seu toque sutilmente acolhedor. Não sabia. Mas um estranho sentimento se apossou dela naquele curto espaço de tempo. Quis saber o que o garoto pensava, quis acolhê-lo do mesmo modo que a acolhia, quis pedir a ele que voasse junto dela. Mas era pequenina e frágil. Nada disso poderia fazer.
No entanto, o garoto a observava encantado, e no instante seguinte, havia nele um toque de tristeza e desapontamento. Como se soubesse que ela teria que voltar a voar. A borboleta quis, então, fazê-lo sorrir e exibiu suas asas delicadas e esfregou suas frágeis antenas naquelas mãos. Quis dizer ao garoto que, embora tivesse que voar, jamais o esqueceria. Que ele havia se tornado especial e que, dentre todas as possibilidades, ela o ecolhera por um motivo e apenas às suas mãos retornaria. Ele havia se tornado seu jardim.
Assim, quando levantou voo novamente, a pequenina pairou ainda por alguns segundos em volta do rapaz, murmurando-lhe uma canção que dizia para esperá-la durante o próximo verão. E também não saberia responder como ou porque, mas sentiu que ele a havia escutado.