Amor em tempo verbal
O retrato explodiu em colorido desmaiado à frente dos meus olhos surpresos, e uma camada fina e longínqua de memória se instalou entre moldura e pupilas, ocultando espaço e tempo atuais – expulsando-os, mesmo, que ali nem mais cabiam – e recriando o universo paralelo, lento, descompromissado e seguro no qual um dia habitamos.
A identidade na fotografia sequer foi lembrança boa: o que não construímos coube em segundos decimados de poucos atos e muitas omissões...
Mas o cheiro de alegria era igual – e antes da própria alegria, sempre jovem, esfuziante, neón – por mero desconhecimento de que um retrato, n'algum tempo, sairia de si em cores anêmicas, resgatando ondas, ilhas e vulcões, tartarugas grávidas, festas ao entardecer, saudades de nada.
Uma fotografia fria dizendo de nós, de novo...
Eu até me apaixonaria, não fosse esse futuro do pretérito que me aporrinha a vida.