[Naqueles Tempos]

[Sei lá o que é que me importa nesta vida...]

Naquele tempo, as rosas gritavam nas praças,

os antúrios eram cúmplices daqueles amores

que, na meia-luz dos alpendres amarelados,

a gente já sabia: eram fracassados, de saída!

Nas noites chuvosas, na escuridão molhada

que pairava sobre a cidade abandonada de si,

o vento brabo vinha de longe e derrubava

as mangas verdes nos quintais limentos...

Também derrubados pela tempestade noturna,

os corpos dos pássaros caídos dos ninhos

amanheciam ali, no meio dos frutos prematuros,

caídos no chão duro, bêbados das primeiras águas...

E numa outra noite, num outro tempo, longe dali,

as ferraduras soltam chispas nas pedras-de-fogo,

o solitário vaqueiro bêbado segue por trilhas enluaradas,

vai quase debruçado na tábua do pescoço do cavalo...

Uma cama afofada,

uma coberta de tear,

uns braços macios;

querer mais — pra quê?!

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[Variante 0]

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[Penas do Desterro, 29 de abril de 2007]