De repente tudo em volta numa mesmice tamanha, a rotina e o tédio dela, inevitável não sentir de perto a tristeza. Dessa que sempre nos dá de vez em quando, que chega de mansinho e se instala e faz de nossa vida a sua sala.
Tudo podia ser diferente, essa é a pior e maior ilusão, pois tudo é o que é e como é, não de outro modo. Tudo podia ser outra coisa, qualquer outra coisa, mas não, tudo é esta coisa. E as coisas são o que são.
Não dá para imaginar mais que isso, não dá para inventar mais além. Só de pensar como as coisas poderiam ser, que não sabemos, só de desejar que as coisas fossem outras, só de pensar nisso, vem essa tristeza de uma frustração incontestável.
Somos miseravelmente efêmeros, não sabemos se era isto que tinha que ser ou se era para ser outra coisa. Somos efemeramente miseráveis. Temos que nos iludir, por que se olharmos de verdade, tudo é precário.
E é sempre assim que eu explico essa tristeza que dá de vez em quando.
Daí os gatos acordam você, uma subindo em cima da cama, outro miando lá no corredor, anunciando solenemente que encurralou um inseto. E eu sempre salvo as joaninhas...
Depois você se depara com um sorriso de criança nas fotos de seu neto espalhadas pela estante e, num instante, aquele sorriso pula na sua cara e você sorri também.
Depois, café com lembranças, melão e queijo branco no pão preto. Sempre há o que lembrar, sempre há o que comer.
Então, porque é preciso, você abre a janela para entrar um pouco de ar e todos os seus olhares saem por ela e vão passear lá fora. Só voltarão quando estiverem fartos, saciados, satisfeitos.
É preciso um pouco de música. Karajan ameaça a Quinta, mas sabe que eu prefiro muito mais a Nona.
Tem os livros, uns tantos, ali como se fossem a floresta onde me escondo ou simplesmente onde me alheio de tudo quanto insiste em existir no mundo real. Vez por outra preciso me imaginar fugindo do mundo, fugindo do real. Sempre haverá alguma coisa esquecida em algum canto, recolhida de momentos importantes, e capaz de me levar a eles, aos momentos, se eu precisar ou quiser.
E a poesia está em tudo, até no que eu nem sei se sinto ou percebo.
Tem um silêncio nas coisas, que a gente percebe somente se puder fazer um silêncio de encurralar silêncios no canto dos momentos, assim como os gatos fazem com os insetos, sorrateiramente, pacientemente. E solenemente.
E tem as pessoas. Sempre estou às voltas com tudo que penso sobre todas as pessoas. O mundo tem pessoas acabadas e pessoas que nem começaram ainda. Tem gente que está morta no mundo dos vivos e gente que vive, mas é só no mundo dos mortos.
Sempre tem um menino brincando sozinho num jardim vazio de meus sonhos. Quando eu acordo, o jardim ainda está lá, mas o menino não.
Eu nunca sei qual é a palavra a ser dita na hora certa. Então eu digo muitas, quase todas. O dia em que eu descobrir a palavra e a hora, eu me calarei para sempre. Porque tudo que haverá para se dizer será música.
Tem sempre um amor esperando na porta, mas nunca entra. Eu tenho sempre que sair e toda vez que eu saio chove. Nunca sei onde é que deixei o guarda-chuva.
O que mais me comove são essas coisas todas que não tem nome. Tentamos inventar os nomes, mas as coisas são sempre maiores e melhores que o nome que inventamos. Não se dá assim com o amor?
A gente não acredita no que é, porque é. Inventamos alguma coisa em que acreditar e, por inventar e crer, achamos mesmo que existe. Não se dá assim com essa tal felicidade?
Tentamos evitar o que nos aterroriza, o que nos desespera e angustia e tudo assim evitado ainda lá dentro bem no fundo dói. E quando não é a própria dor a doer é a noção dela que incomoda. A vida passa, o tempo avança, envelhecemos de repente. E toda lembrança é uma cicatriz.
Eu não sei o que é a morte, mas a vida é sede, fome e desejo, essa coisa sonhada que vivemos, essa coisa vivida que sonhamos, essa coisa que nem queremos, não pedimos, assim pensamos, mas que temos.
A eternidade é um olhar fugaz. E a vida é somente um piscar de olhos. Qualquer coisa além disso, é puro e desnecessário excesso.
Tudo podia ser diferente, essa é a pior e maior ilusão, pois tudo é o que é e como é, não de outro modo. Tudo podia ser outra coisa, qualquer outra coisa, mas não, tudo é esta coisa. E as coisas são o que são.
Não dá para imaginar mais que isso, não dá para inventar mais além. Só de pensar como as coisas poderiam ser, que não sabemos, só de desejar que as coisas fossem outras, só de pensar nisso, vem essa tristeza de uma frustração incontestável.
Somos miseravelmente efêmeros, não sabemos se era isto que tinha que ser ou se era para ser outra coisa. Somos efemeramente miseráveis. Temos que nos iludir, por que se olharmos de verdade, tudo é precário.
E é sempre assim que eu explico essa tristeza que dá de vez em quando.
Daí os gatos acordam você, uma subindo em cima da cama, outro miando lá no corredor, anunciando solenemente que encurralou um inseto. E eu sempre salvo as joaninhas...
Depois você se depara com um sorriso de criança nas fotos de seu neto espalhadas pela estante e, num instante, aquele sorriso pula na sua cara e você sorri também.
Depois, café com lembranças, melão e queijo branco no pão preto. Sempre há o que lembrar, sempre há o que comer.
Então, porque é preciso, você abre a janela para entrar um pouco de ar e todos os seus olhares saem por ela e vão passear lá fora. Só voltarão quando estiverem fartos, saciados, satisfeitos.
É preciso um pouco de música. Karajan ameaça a Quinta, mas sabe que eu prefiro muito mais a Nona.
Tem os livros, uns tantos, ali como se fossem a floresta onde me escondo ou simplesmente onde me alheio de tudo quanto insiste em existir no mundo real. Vez por outra preciso me imaginar fugindo do mundo, fugindo do real. Sempre haverá alguma coisa esquecida em algum canto, recolhida de momentos importantes, e capaz de me levar a eles, aos momentos, se eu precisar ou quiser.
E a poesia está em tudo, até no que eu nem sei se sinto ou percebo.
Tem um silêncio nas coisas, que a gente percebe somente se puder fazer um silêncio de encurralar silêncios no canto dos momentos, assim como os gatos fazem com os insetos, sorrateiramente, pacientemente. E solenemente.
E tem as pessoas. Sempre estou às voltas com tudo que penso sobre todas as pessoas. O mundo tem pessoas acabadas e pessoas que nem começaram ainda. Tem gente que está morta no mundo dos vivos e gente que vive, mas é só no mundo dos mortos.
Sempre tem um menino brincando sozinho num jardim vazio de meus sonhos. Quando eu acordo, o jardim ainda está lá, mas o menino não.
Eu nunca sei qual é a palavra a ser dita na hora certa. Então eu digo muitas, quase todas. O dia em que eu descobrir a palavra e a hora, eu me calarei para sempre. Porque tudo que haverá para se dizer será música.
Tem sempre um amor esperando na porta, mas nunca entra. Eu tenho sempre que sair e toda vez que eu saio chove. Nunca sei onde é que deixei o guarda-chuva.
O que mais me comove são essas coisas todas que não tem nome. Tentamos inventar os nomes, mas as coisas são sempre maiores e melhores que o nome que inventamos. Não se dá assim com o amor?
A gente não acredita no que é, porque é. Inventamos alguma coisa em que acreditar e, por inventar e crer, achamos mesmo que existe. Não se dá assim com essa tal felicidade?
Tentamos evitar o que nos aterroriza, o que nos desespera e angustia e tudo assim evitado ainda lá dentro bem no fundo dói. E quando não é a própria dor a doer é a noção dela que incomoda. A vida passa, o tempo avança, envelhecemos de repente. E toda lembrança é uma cicatriz.
Eu não sei o que é a morte, mas a vida é sede, fome e desejo, essa coisa sonhada que vivemos, essa coisa vivida que sonhamos, essa coisa que nem queremos, não pedimos, assim pensamos, mas que temos.
A eternidade é um olhar fugaz. E a vida é somente um piscar de olhos. Qualquer coisa além disso, é puro e desnecessário excesso.