PASSADO E FUTURO
O amor. Ah! o amor... Onde mesmo mora esse gigante em nossa razão fasciculada e de origem nos olhares póstumos e prisioneiros do passado que aprendemos a saborear sem questionar? Verdade é que nada sabemos do futuro. Sobre esse veio de vida que tanto cobiçamos e nos preparamos pra alcançar, apenas publicamos presunções, reflexos internos já concebidos a partir de experiências passadas e tratadas com azeite e vinho novo, como se contemplássemos o efeito surpreendentemente colorido de majestosos vitrais olhando por dentro, sem perguntar por que o mesmo efeito colorido não reflete externamente.
Passado gigante e Futuro anão. Um espreitando o outro e armando emboscadas. A vitória do passado é certa, implacável. Esgota de uma vez e com força de lâmina de guilhotina as aspirações do futuro que segue sempre espinhado por hipóteses, miúdo, franzino que só, e vive em função de mensagens decodificadas para convencer que pode ser grande e eterno.
Imune de sofismas é o fato de que o passado é sempre maior que o futuro e ninguém mantém esta luz acesa por muito tempo. Ninguém absorve essa verdade em sã consciência. Falta coragem! E é esse estado inconsciente de negação que alimenta as almas com um mágico prato feito de esperança. Sempre haverá mais um dia, uma chance, um encontro, um filho, um amigo. O final nunca será hoje e partindo desta falsa premissa o passado absorve tudo.
Em apurada conjectura, quanto menor a consciência de finitude, mais distante a capacidade de descobrir o logradouro do verdadeiro amor. Vejo tantos homens "eternos" morrendo sem saborearem um único cálice do verdadeiro amor e sem jamais descobrirem onde mora esse real gigante.
Nós dois sabemos onde mora o amor verdadeiro. Mora em mim e em ti. Em nosso passado. Não há amor no futuro.