UMA LEVE BRISA ACARICIOU-LHE E O BEIJOU SUAVEMENTE
Uma leve brisa acariciou-lhe e o beijou suavemente
Os anos em demasiada espera à beira da estrada
como um viajante sem rumo que sai e não sabe se volta
Todos os caminhos não lhe eram sabidos
Uma vaga sensação, como um Déjà vu, não cessava
em lhe impingir receios calados no seu mais íntimo ser
Manhãs despertadas com o falatório da feira à porta da sua casa
sons invadiam-lhe a alma como lembranças esparsas
que contaminadas, como as águas de um rio tomado por dejetos das fábricas, ao chegar à noite, juntavam-se como hóspedes indesejáveis
Um pobre homem, em tudo igual aos de sua idade,
atravessa a rua, sob gritos que anunciam frutas e peixes,
despreza o bom dia que uma velha senhora vizinha lhe dirige
A vista fraca e o andar trôpego sugerem noites mal dormidas
Na barraca de pastel a gordura borbulha sabores vários
frango, bacalhau e palmito são os mais pedido
A pobre criança implora ao engravatado que lhe pague um
Nada tem, e sai às lágrimas confundidas como prenúncio de chuva
Manhãs esquecidas e lembradas como quadros na parede
Retratos de gente que há muito já nem sabe se vivas
A viúva, bela e fogosa desde tempos juvenis,
trás ao decote olhares mais que libidinosos
A pele queimada pelo sol que brilha sem descanso
anuncia que os tempos de moço ficaram no pretérito
Outros e mais outros serão apenas tempos na memória
As mãos no peito massageiam amores vividos