CORPO SOBRE CORPO

A concretude dos fatos sugere a estampa física e o poema nasce como um sussurro ao ouvido, para entranhar-se a partir daí, porém muito além. É a sina genital, da qual surtem desejos e depois, em estado de lassidão, urge a vontade de morrer. Lasso após a descarga erótica, todavia mais vivo do que nunca. A necessidade de nos sabermos humanos produz esta sensação boa do corpo sobre o corpo. Enfim, "el amor es solo la piel contra la piel", segundo G. R. Monk. E o poeta, condenado ao lírico sobre a epiderme, faz do poema a clava da gratidão à dádiva do corpo, mesmo que reste a sensação de sede na garganta e acesas retinas para um novo alumbramento. E os lençóis testemunhais cobrem pudores sobre o gozo, nódoas desfalecidas.

– Do livro POESIA DE ALCOVA, 2014.

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