A dualidade da saudade
Pra onde posso levar a minha saudade?
Ela é uma bagagem pesada que levo às costas.
Dentro dela o carinho dos seus olhos,
A invenção das minhas rodas,
O branco nuvem dos seus sorrisos,
O sol quente dos seus abraços
E suas filosofias de vida.
Não, não tem porquê e nem pra onde,
Não tem como e nem lugar de guardar.
Apenas sou dela e ela fez morada em mim.
A saudade adentra minhas narinas
Como o ar necessário... são vitais.
Não sou de pedra, mas sinto que às vezes sou de areia.
E a saudade é como as ondas do mar;
Bate e volta, bate e volta com toda sua sonoridade,
Levando uns grãos de serenidade.
Mas também, tem horas que me refresca...
... porque saudade “até que é bom, é melhor que caminhar vazio.”
Até onde? Até quando pode ir minha saudade?
Ela vem se tornando uma velha amiga.
Tomamos vinho, fumamos, andamos por aí
E muitas vezes dormimos juntos.
Uma canção te trás, um copo de vinho tinto,
Uma paisagem... és como poeira limpa
Parada no ar que quando quer pousa silenciosa em mim
E me abraça sem pudor.
Ah minha flor maior e mais colorida,
Flor de estação eterna, de primavera sem fim.
Se quiser saber, a maior herança que me deixou
Foi essa saudade louca que ora joga pedra
E que hora sossega meu coração feito banho de cachoeira.
Você foi embora, levou um pedaço enorme de mim;
Um buraco negro se fez, que engoliu um tanto daquilo do que eu era.
E no lugar ficou tudo aquilo que grita seu nome,
Que chora tem hora ou que assopra a ferida.