diálogo I
Apontou o dedo na cara dela, rindo de se contorcer
e disse:
- Tu não tens coragem!
Ela, da poltrona, rasgava um folha branca
em muitas tirinhas --
dizia a si mesma que isso
era uma espécie de tortura --
e retrucou sem desviar a atenção
do prazer daquele tédio:
- Tenho sim. Tudo mudou em mim.
Mas a companhia continuava rindo,
e agora ria um pouco por causa do fastio
com que ela deu a resposta.
Em suma, não acreditou nem por um segundo,
mas continuou:
- Mudar, mudou. Sei lá como dizer. Você ainda treme em algum lugar. Mas algo mudou, tenho de concordar. Ainda assim, antes...
- Antes ficou no antes. Agora já é depois. E um durante.
Com essa réplica, o riso morreu.
Só restou uma expressão vaga no ar. E o barulho daquele rasgar.