Prosa poética 1
O espírito asséptico (sapo e encantamento)
Os jardins, quase não existem mais – plantas viraram mercadorias e são compradas como objetos de decoração, depois de utilizadas são jogadas fora e, o homem continua a cantilena de diz que a natureza está acabando...
Não há mais jardins como composição da moradia, eles definitivamente foram exterminados.
Não há mais jardins que dormem envolvidos por sapos como diz Clarice Lispector – nem mais, se quer existem sapos.
As pessoas idolatram os sapos de plástico ou em figuras de livros infantis e morrem de medo de sapos reais. Eles são bichos nojentos de se espiar.
Espiar? Já não se espia mais nada, pois espiar e deixar o olho comprido, deitado rumo à coisa para pelo olhar se relacionar e dela se enamorar. Como pode ser bom se enamorar por um sapo, um vaga-lume, uma planta..., por qualquer elemento da natureza, porque deles estamos encantadas. Pelo bicho homem também.
Espiar é enxergar! Para ver nuances das diferenças da coisa mirada.
Por isso a tão bela expressão popular, quando na sua acepção positiva: “fulano está de olho comprido.”
Ela fala do olhador mais do que do olhado. É o desejo, é a cobiça, é o apetite do olhador que nela se expressa. Mais ainda, é a admiração, é o encantamento do olhador pela coisa olhada, que desloca o olhador de dentro pra fora em todas as direções, especialmente, na sua direção de coisa cobiçada.
Os sapos deixaram de cantar, porque o homem não mais quis ouvi-lo. O medo deles como bichos nojentos e ruins de ver, pela sanha asséptica, passou ao impulso da completa exterminação.
E os homens lançaram-se ao extermínio desses seres.
Morte aos sapos e a sua nojenta aparência! Afinal, a regra de sobrevivência é somente para aqueles que são nossos espelhos.
E, nessa máxima, de igualdade, que morram também os homens que não são iguais a mim. Sentimento geminal para as campanhas pela redução da idade para a maioridade penal e para a pena de morte, propriamente.
O espírito asséptico está ganhando terreno...