MEU MUNDO DE PALAVRAS
Escrever é uma prazerosa arte, de lidar com o imprevisível, de retratar o impossível, de fugir e inventar o visível, de materializar o invisível. Tudo o que se cria foge para um mundo onde possa ser realizado, onde possa ganhar forma e vida, onde encontre um espaço para seus personagens e ações. Eis a cabeça do leitor, a "grande vítima" das palavras, elas o rondam, o perseguem até persuadi-los e fazê-los refém de suas tramas e versos.
Quando se escreve compõe-se um mundo onde tudo é passível de reinvenção, aliás, a vida é um exercício de reinvenção. Quando se coloca as essências da vida no branco do papel, tudo se transforma num incerto de várias possibilidades, o logro de ser escritor está na capacidade de não se limitar. Faz-se do verso a mão amiga, a lágrima rolada, o passo dado, a pedra atirada. Tudo é motivo de escrita, fato de beleza e arte.
O escritor também é um sádico, nas palavras de Pessoa é um fingidor. Finge a pena e a tristeza, finge a dor e o lamento, finge a alegria e a paixão. Mas quem garante Pessoa, que de profundamente fingido, não se torne verdadeiramente sentido? Ah! Como muitas vezes nos cortam as palavras de tristeza, nos torturam as palavras de agonia, nos felicitam as palavras de carinho, nos escravizam as palavras de amor.
Pobre é a sina do poeta, pois é da dor mais intensa que nasce o mais lindo poema. Revela-se um exímio alquimista de sentimentos, mutáveis e enigmáticos. O que guarda o coração do poeta? De quanta paixão se resguarda? De que palavras se descrevem?
Vendo o poder das palavras, vi a possibilidade de também criar um mundo, e fazê-las minhas companheiras. Difícil missão, para ser poeta tem de levar um pesado cargo, que um certo iatabirano revelou. E foi num sonho... Quando nasci um anjo, desses que vivem na sombra, disse:- Vai Tales ser gauche na vida!!!! E a isto me reduzi, fadado ao crime e castigo de ser poeta torto, assim como aquele mineirinho itabirano.
E desde então, tenho oferecido a minha vida como um servo das palavras, contemplando o seu poder, e parado no tempo perplexo com o seu poder exclamei com Cecília: - Ai palavras, ai palavras, que estranha potência a vossa!É num momento de êxtase, nem ritus de ourives, vou esculpindo na áspera página em branco, as palavras ardentes, intensas, inquietas, vívidas. E foi assim que descobri, junto com Clarice, um dos propósitos de escrever: "Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada." Eis a minha missão, relatar o que a vida me propõe, momentos de insânia e lucidez, momentos de tristeza e alegria, um jogo de luz e sombra, o vôo de uma borboleta, uma gota de água... Enfim, relatar o que cada palavra de trouxer de obrigação... E trazer a cada leitor a beleza de meu ofício!!!