[A descanga do boi carreiro]
Eu repito:
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Um nunca sabe por que escreve, por que narra certas coisas... apenas para confirmar que a regressão é sempre errada, errosa? É, mas também não é... não há resposta cabal! Há uma violência não-gratuita no ato de escrever, um atrevimento, uma loucura, uma besteira...
Ninguém me pediu que escrevesse, ninguém me paga para que eu escreva, e quase ninguém me lê — meus escritos têm a mesma fenomenologia da baba do boi carreiro que, finda a dura jornada, apenas aguarda a descanga... baba que surge na lenta e silenciosa mascação, e escorre, cai na poeira do curral, sem compromisso com nada, sem dever nada a ninguém... simplesmente remida!
Eu sou aquele que faz perguntas e dá as costas para qualquer possibilidade de resposta - não estou interessado em respostas... terão o mesmo destino da pergunta: o nada.
E o que me importa o nada em que eu torno a cada instante... Escrevo mesmo sem saber ou pensar se quem abre a tela da "Pública Tribuna da Loucura" vai ler!
Ao gritar no vazio do nada da esquina eletrônica desta "Tribuna", eu entendo, e como entendo, aquele louco que, enquanto subia a majestosa Avenida Minas Gerias lá em Araguari, gritava e rasgava a sua roupa até desnudar o corpo alvo, quase esquelético. Só então, os homens de vidas inautênticas correram, e deram uma resposta: cobriram com um cobertor o corpo nu, gesticulante que subia a Minas Gerais... nem se importaram com a baba do louco, que apenas caiu na poeira da avenida.
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[Penas do Desterro, 24 de fevereiro de 2008 a 11 de janeiro de 2014, às 09:28]