Prosa de Pedro Jeju e Zé Firmino
- José Firmino, acredite,
Não gosto de me gabar,
Mas, quando pego a viola,
Quando começo a cantar,
Saem das covas, defuntos,
Os peixes saem do mar.
Os anjos descem do céu,
E tudo vem me escutar.
-Eu não tenho inveja disso,
Sou valente, valentão.
Cangussu é meu cavalo,
Cascavel, meu cinturão.
Eu engulo brasa viva,
Pego curisco na mão,
Um empurrão do meu dedo,
Bota dez morros no chão.
-Isso tudo não é nada,
Não pode me amedrontar,
Paro o vento quando eu quero,
Já fiz o sol esfriar.
Bebo chumbo derretido,
Sem o chumbo me queimar,
Seguro as onças no mato,
Para o meu filho mamar.
-você pode ser valente,
Habilidoso não é.
Eu calço chinelo em cobra,
Ponho guizo em jacaré.
Asso manteiga no espeto,
Faço o tempo andar a ré.
Carrego água em peneira,
Dou beijos em busca-pé.
-Se eu for contar minhas artes,
Não acabo nunca mais.
Para apagar os incêndios,
Uso breu e aguarrás.
Eu ponho luneta em pulga,
E gravata em satanás.
Eu faço gelo com brasa,
Coisa que você não faz,
Faço o carro andar na frente,
Faço o boi andar atrás.
AUTOR: Viriato Correia.