Ah, Como Amo a Vida!
Não me recordo de ter dito algum dia que não gosto da vida!
Desde que me entendi por gente que venho cintilando nos reflexos do sol, sob prismas coloridos de cores que enfeitam a vida.
E... eu já amava a vida.
Menina, ainda, inocente e irreverente, a correr de cabelos ruivos soltos ao vento, já bebia o néctar da vida. Sempre achei a vida esplendorosa.
Nos remansos dos rios da minha terra, nas asas das borboletas no ar à bailar, nas poéticas e verdes serras, que por horas e horas, eu distante, no banquinho da fazenda sentada em silêncio, a vislumbrar. Sempre gostei da vida!
No riacho doce, na fazenda de vovô, eu só de calcinha, sem saber nada de maldade, mergulhando como um peixe feliz com direito a infantes traquinagens... Pula daqui, pula de lá, chegando até a me machucar na galharia das árvores que se debruçavam nesse rio da minha infância.
Ah, como eu sempre gostei da Vida!...
Menina ainda, mas tão sensível, sentia o desvelo de mamãe comigo e com meus irmãos. Mamãe, tão terna, me ensinava coisas da vida para a vida toda e de noite, mesmo cansada, chamava eu e todos meus irmãos para a oração. E Deus andava na minha infantil imaginação. As orações que mamãe nos ensinava eram puras, cheias de fé e eu pensava, veja, a vida como é, Deus, os Anjos, os Santos, lá no céu, mas mamãe diz que na oração ficamos todos juntos. E eu pensava, e eu acreditava, e eu amava aquele encontro de amigos na noite. Porque desde pequena, mamãe nos ensinou que Deus , Jesus, Anjos e Santos, são nossos amiguinhos. E eu ia dormir sonhando com paisagens divinas e eu, uma menina, amiga de gente de Deus.
Ah, como eu amava a Vida!...
Nos recortes de jornais que eu lia e relia, tentando o mundo lá de fora encontrar, ao pé da cristaleira de mamãe, lá na fazenda, com os ouvidos atentos, com o rádio ligado, ouvindo a radionovela se desenrolar....
Ah, como sempre gostei da vida!..
Mamãe fazia linguiça, ficava muito saborosa. Ela fazia uma corda no lado de cima do fogão de lenha, e alí sempre tinha as linguiças e outraas carnes... Quando mamãe preparava eu achava uma delícia e pensava:
Ah, como eu amo a vida!
Quando mamãe lavava o pilão, pegava o tacho de cobre... Eu já sabia, que ela iria fazer chocolate. O cacau torrado, já estava reservado e eu, e todos os meus irmãos ficávamos ao seu lado. Não tardava e o cheiro do cacau ganhava a estrada e ia contar para quem passava, que mamãe estava fazendo chocolate. Mamãe, dava tigelas de chocolates, para as mulheres dos trabalhadores. As outras crianças, junto conosco, degustava a iguaria que mamãe tão bem fazia. Todos, em igualdade, juntos pelo sabor do chocolate, com toda felicidade.
Ah, como eu amava a vida!..
Com o tempo passando, a inocência se extinguindo, as horas torpes da vida eu já conhecendo, por presenciar tanta gente do mal, sem vergonha de imoralidades, de falsidades.... Fui me protegendo e me fortalecendo... Encontrando na caminhada gente do bem e novas alegrias. Eu, encontrando e até inventando alegrias... E ainda dizia e aindo eu digo:
Ah, como eu amo a vida!
Hoje, tanta coisa distante... Sem mamãe, sem vovô, sem os riachos, sem as borboletas, sem aqueles pássaros, sem o fogão de lenha, sem o pilão, sem o tacho de cobre...
As lembranças são ricas, mas a saudade é pobre. Pobre de presença, de tudo que o Tempo já levou. Mas, eu continuo acreditando em Deus, na oração e dizendo:
Ah, como eu amo a vida!...
Rosa Ambiance
Notinha molhada:
Gente, foi muito fácil eu escrever essa Prosa Poética. Tantas lembranças voltando na minha mente e não tive como evitar o pranto. Assim, é a vida... tudo passa. Vou secar minha face molhada de saudade.