História de um Filho

Quando eu paro, não escrevo, o tédio invade a memória,

Fico triste, sem sorriso, levo a mão à palmatória,

Uso ela ou a caneta, pra escrever uma história.

Quando ainda eu era moço, Fui desprovido da sorte,

A mulher que eu possuía, tão nova, encontrou a morte,

E, eu enfrentei o mundo, pelo aparte de um corte.

Pois nós dois tinha um filhinho, que era muito estimado,

Tudo o que ele aprendia, para nós era engraçado,

Era ele em nossas vidas, valoroso e muito amado.

Um dia, lá pelas tantas, a mulher adoeceu,

Ninguém sabia o que era, e, nem como aconteceu,

Seus olhos amarelaram, sua vista escureceu.

Sua mãe, disse é tirisse, a doença é rotineira,

Pode aturar muitos dias, a cura é chá de mangueira,

Sem pensarmos que aquela, era a sua derradeira...

Fui fazer uma viagem, alguns dias demorei,

E, na casa de um amigo, o seu papai encontrei,

Só em ver o seu semblante, muito tristonho fiquei.

Pensando no meu filhinho, eu deixei tudo pra traz,

Só passando o que eu passei, na hora sabe o que faz,

Com certeza a minha esposa, viva eu não veria mais.

Com tudo, nós dois partimos, no peito a grande esperança,

De poder dar a saúde, eu tinha, em Deus confiança,

Do meu filho e da esposa, não afastava a lembrança.

Lá pelas quatorze horas, nós conseguimos chegar,

O pai dela, por ser velho, só pensava em descansar,

Mas, vendo a filha doente, causava pena se olhar.

Do jeito que ela estava, era até de causar pena,

O seu corpo, antes, delgado, Contrariava esta sena,

Mas, apesar da doença, se mantinha bem serena.

O meu filho, sempre alegre, só porque era inocente,

Um aninho de idade, lindo, risonho e contente.

Só andava engatinhando, parecia independente.

Quando ouvia a minha voz, era alegria geral,

Nem avó, nem a mãe dele, tudo virava rival,

Ele pulava em meus braços, com carinhos sem igual.

Mas, logo a nossa alegria, No pensamento, ia embora,

Olhando a mulher doente, a família aquela hora,

Um sentimento de luto, corre pela casa a fora.

Não sabendo o que fazer, vemos pelo sentimento,

Assim, depois de três dias, Todos nesse sofrimento,

Deus resolveu levar ela, livrando a deste tormento.

O tormento de que falo, trocou espaço veloz,

Porque saiu da doente, que não ouve mais a nós,

Mas, atingiu a família, com uma tristeza algoz.

Sepultada a minha esposa, eu e meu filho somente,

Voltamos pra nossa casa, que estava diferente,

Eu, sozinho, companhia, só o meu filho inocente.

É difícil imaginar, a grande desesperança,

Um homem ficar viúvo, sozinho com uma criança,

Sai, nem pra pegar água, pois não tinha confiança.

Os vizinhos eram bons, mas, viviam na pobreza,

A comida e o sustento, tiravam da natureza.

Mesmo eu sendo o seu patrão, não podia usar defesa.

O pior veio de pois, é difícil acreditar,

Tive que dar o meu filho, para minha mãe criar,

Pra ela sei que foi bom, mas, pra mim, foi de amargar.

Você, pega um filho seu, o que mais no mundo ama,

Entrega a outra pessoa, ver seu pranto que derrama,

Parece que nosso cérebro, se transformaria em lama.

Por muito e muitos dias, eu fiquei vagando ao léu,

Não tendo onde ficar, minha casa é meu chapéu,

Solvendo como alimentos, amargas taças de fel.

Daí a várias semanas, eu resolvi ir embora,

Pra onde ninguém soubesse, desse ser, onde ele mora,

E a saudade do filho, me consome a toda hora.

Abandonei o trabalho, mudei pra outro lugar,

Vim morar no Rio Tejo, Sai do Tarauacá,

E, depois de alguns anos, eu voltei a me casar.

Logo arranjei um trabalho, guarda livros, contador,

Fiz diversas amizades, uns amigos de valor,

Meu patrão, um homem honrado, muito amigo e protetor.

Trabalhei por cinco anos, sem pensar em casamento,

Depois vi que precisava, para o meu contentamento,

Conheci uma donzela, e, cumpri meu juramento.

Em oitenta e dois, casamos, ouve bastante alegria,

Tivemos dois lindos filhos, que com anjos parecia,

Mas, ao depois de seis anos, nosso amor se desfazia.

Depois que nos separamos, por se encontrar gestante,

Como a gente não sabia, foi um susto delirante,

Pois além de separados, já morávamos distante.

Após a separação, cinco anos, encontrei,

Uma garota bonita, e, com ela me casei,

E, meus filhos com a outra, juntinho dela criei.

Foi quando a minha mãezinha, subiu pra junto de Deus,

Segunda mãe do meu filho, que viveu os dias seus,

Já rapazinho, estudando, seguiu os caminhos meus.

Ao chegar na capital, meu belo filho estudando,

Tinha perdido mamãe, sei que estava precisando,

Convidei pra vir comigo, ele foi logo aceitando.

Hoje, já tem trinta anos, robusto, forte, elegante,

Sou muito feliz com ele, nosso passado é distante,

Mas, das duas mães do meu filho, sinto saudades bastante.

Muitos tem uma só mãe, e vivem juntinho dela.

Meu filho que, teve duas, hoje, nem essa nem aquela,

Pois Jesus chamou as duas, porque precisava delas.

Ele perdeu a mãezinha, eu também, perdi aquela,

Era nossa e Deus tirou, nós dois ficamos sem ela,

Hoje, somente a saudade, dos tempos que tinha ela.

Os carinhos de mamãe, igual somente mãe faz,

A recordação nos mata, ilusões que o tempo traz,

E só que perdeu que sabe, a falta que mamãe faz.

Ninguém recupera a perda, duma pessoa querida,

Principalmente a mãezinha, Joia rara, preferida,

Não temos nossa mãezinha, nos resta a alma ferida.

É muito triste porque, não doe só naquela hora,

O peito fica sangrando, e lembrando você chora,

Parece ter sido ontem, que minha mãe foi embora.

Não conseguimos esquecer, mas, vivemos o presente,

Somos felizes juntinhos, ele está sempre presente,

Visita-me todo dia, e me faz viver contente.

É honrado e bem sadio, humilde e trabalhador,

Tem esposa e tem filhinhos, É chamado de senhor,

E, eu não tenho palavras, pra definir seu amor.

Muito agradeço a meu Deus, pelo meu filho adorado,

O tempo hoje é precioso, as vezes lembro o passado,

E, os tempos de criança, muito pouco são lembrado.

Com minha esposa de agora, tenho três filhos somente,

Helane e Gedeão Junior, são bastante inteligente,

E, a Elinne que é, linda, risonha e contente.

Vou terminar essa história, que é parte do meu passado,

Minha esposa é compreensiva, não me deixa preocupado,

E, com meus filhos e ela, me sinto realizado.

Não sei se sou um bom pai, nem se sou um bom marido,

Mas, o que faltou pra mim, dou ao meu filho querido,

E, de um, passado tristonho, as vezes fico esquecido.

Vou encerra esses versos, com muito amor e carinho,

Deus permita que meu filho, nunca mais fique sozinho,

Mesmo depois que eu morrer, ele receba carinho.

Meus filhos e minha esposa, Que tendes me suportado,

Também a minha família, dos que vivo separado,

Meus amigos e parentes, a vocês, muito obrigado.

Gedeão Cavalcante
Enviado por Gedeão Cavalcante em 02/01/2014
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