Paredes vermelhas
Num sábado, a cena surreal à tarde, vi o noticiário
Incrédulo, assistia e nada daquilo entendia... Qual a motivação?
Afinal, a mãe, enlouquecera de súbito, cometera crime bárbaro!
Seu filho Durval, antes, saboreava o “Lado A” de uma vida irônica...
Depois do disparo, o absurdo gosto amargo de uma tragédia cômica!
No “Lado B”, obscuro, é que a insanidade da mãe aflorou
Foi demais para sua cabeça senil aquela informação; ela não gostou
De saber do sequestro, uma morte, crime sem solução... Para a velha...
A certeza; preciso disparo acidental, jaz no quarto a doceira sobre a cama!
Brancos lençóis e a família não mais a sós! Um corpo sobre a cama!
Enquanto o tormento ganhava gigantescas proporções, inverossímil drama!
A menina bailarina, sobre o cavalo, pintava com a tinta da vítima que escorria da cama
Pintava com o sangue da doceira as paredes brancas... Sobre o cavalo
De vermelhas; mofadas com enormes traços borrados, pingava vermelho sobre o cavalo branco
Traços e pingos imprecisos de menina delicada no quarto com cheiro de sangue!
Durval, incrédulo, via tudo inerte! Suava... Sem telefone, corte casual?
Como seus vinis preciosos e raros... Silenciosos, todos muito caros!
Só as bolhas de sabão se moviam, flutuavam no ar... Mamãe cantava, coisa e tal...
Cale-se! Enquanto pôs-se a arrumar as prateleiras empoeiradas e velhas... Havia nos vidros muitos riscos!
Noutro dia, manchete de jornal, primeira página; em 1995 a “Era do CD” começava a dar prejuízos a Durval Discos!
*Baseado em: “Durval Discos”
Direção: Anna Muylaert (2002)