Fotografia de © Ana Ferreira
adágio - Albinoni - by David Garret
adágio - Albinoni - by David Garret
A ÚLTIMA VOLTA
Hoje…
Rodamos a última volta de uma chave
que tranca um pedaço do passado...
Quem sabe essa chave não voltará a rodar.
Hoje...
Eu desejo nesse ano que está para chegar,
bem mais do que nos outros,
sentir-me feliz.
Uma felicidade que encontre
aconchego e descanso no meu coração,
não importa quantos ventos
eu possa ter que aquietar.
O amor é, por natureza,
o sol que nos conduz,
e eu quero inundar-me dessa luz.
Hoje…
Rodamos a última volta da chave,
depois de mais 365 dias
navegando por mares infindáveis,
procurando um porto para nossa nau.
Somente a serenidade é nossa aliada.
Só nela entenderemos os caminhos das águas,
o pulsar da vida,
não raras vezes, contra a correnteza,
a vontade do coração,
enfrentando, corajosamente,
as intempéries do mundo…
Sábios são os serenos instantes de recolhimento,
onde apenas a nossa voz interior fala,
única companhia de nós mesmos,
que nos faz entender que não adianta apressar as águas,
pois sozinhas elas sempre vão correr.
Hoje...
Dizemos "Adeus Ano Velho", só por mera rotina.
Um pedaço do coração fica lá, em todos os Anos Velhos,
embora sempre estejamos à espera
de novas possibilidades, novos sonhos,
novos meios de buscar a felicidade
em cada ano que se inicia.
Ledo engano... Não há um último segundo,
uma fronteira entre passado e futuro,
porque não podemos, simplesmente, apagar o passado,
a nossa história, as nossas vivências,
deixá-las à margem de uma falsa linha divisória
entre o Velho e o Novo...
E as águas continuarão a correr...
Saibamos saudar o amanhecer
de cada novo dia,
e não apenas a aurora do ano que principia.
Hoje…
E também ontem, por aqui deixei
palavras de várias cores.
Partilhei momentos atribulados,
pedaços de mim,
testemunhos de vida...
Por aqui conheci pessoas que
Hoje…
Fazem parte dos meus dias,
parte integrante do meu viver.
A ninguém esqueço.
A todos eu agradeço.
Por me fazerem sorrir,
Por me fazerem chorar.
Por estes pequenos/grande prazeres
que nas letras conseguimos encontrar.
Hoje…
E não apenas hoje, aprendi
que não podemos dizer adeus por completo
a algo ou a alguém.
Hoje… E não somente hoje,
quero ver o céu azul sobre a minha cabeça,
quero a chuva cristalina lavando os meus receios
e o sol guiando os passos do meu coração.
Quero um futuro de portas abertas,
para poder amanhecer com as aves
e todos os dias descobrir, maravilhada,
que a vida ainda é maravilhosa!
Quero abrir as portas de dentro,
porque o mundo ainda cabe na palma da minha mão.
Hoje...
Mais do que ontem,
sei que a felicidade é composta de pequenos momentos.
As coisas grandes vêm muito raramente
e, se não juntarmos cada pedacinho,
o grande nada significará realmente,
e a primavera só fará sentido
se as sementes plantadas puderem ser colhidas.
E não adianta apressar as águas,
pois elas correm e sempre correrão sozinhas.
E nada somos além de meros aprendizes.
Hoje...
E não apenas hoje,
sejamos felizes!
Ana Flor do Lácio