Do tempo em que ainda se usava emprestar livros

Nos últimos dias daquele dezembro passei na casa dele para dar lhe um abraço e expressar os meus votos para o novo ano. Soube então que ele havia partido, sem dizer o destino. Não me espantei porque já estava acostumado com estas sumidas repentinas dele, desde os tempos em que vivíamos em uma república no centro de São Paulo na década de setenta.

- Antes que eu me esqueça, ele deixou um livro sobre a escrivaninha para te devolver e me pediu que te lembrasse de levá- lo, disse me sua mãe com uma voz meio embargada.

Num destes dias, separando alguns livros para doação,folheei -os um por um, e me perdi nas notas de rodapé, marcações de parágrafos, grifos e sublinhados de frases que alguns leitores costumam fazer. Eu sempre gostei destas intervenções. Muitos livros, famosos entre os jovens, como os do Herman Hesse por exemplo, circulavam de mão em mão e parece que cada leitor lia uma história enriquecida pelo olhar dos leitores anteriores. De repente dei de cara com este bilhete entre as páginas do livro que havia emprestado a este amigo, décadas antes, com uma mensagem. Gostaria de compartilha- la, como uma espécie de doce lembrança do meu amigo que nunca mais voltou daquela viagem.

Dizia: Com um forte abraço receba minha mensagem de ano novo para você.

Desconheça- te a ti mesmo.

Voe mais alto em tudo que você faz. Sinta o sobresalto, sinta o frio na barriga.

Olhe a vida de outro ângulo, de todos os ângulos.

Desconstrua- te

Desfaça -te

Desapegue

Desaprenda

Tenha olhos novos para tudo.

Desconfie de tudo que lhe ensinaram sobre ser feliz;

Desconfie do que dizem sobre os grandes homens, sobre os super homens;

Desconfie das grandes causas, das grandes revoluções e das promessas milagrosas.

Sinta o fluxo da vida. Aprenda a fluir.

"Vejo a beleza do céu porque não tenho com o que compará-lo, porque ele é único, não tem precedente em mim."

Com esta mensagem desejo a todos vocês um lindo 2014