A PORTA
Sob o manto da mãe protetora
um desatinado bebê espera o colo
tardio dos que não tem quem os ampare
A espera se mantém longa e cansativa
e a pobre criança sem alimento e pano
chora copiosamente em vão os braços salvadores
Era noite fria e chuvosa
no céu a lua se escondia
sob nuvens espessas e névoa igual
Ninguém passa
o silêncio denuncia a solidão
daquela criança que já não chora
apenas se mexe no cestão
que lhe serve de cama
A noite avança sem pressa e compromisso
Às portas da casa do senhor
visitada por magnânimas senhoras
cobertas com o manto da Mãe de todos
o pobre corpo contempla a fina luz do lampião
Em sua companhia apenas pensamentos
indescritíveis passam por aquele pequeno cérebro
O que pensa poder-se-ia conjecturar filósofos
e ou teólogos sobre tais pensamentos
O cesto cama não responderá
o manto esperado e protetor não veio
A noite rompeu a madrugada
seus habitantes silenciaram
e a aurora não trouxe o cantos dos pássaros
O dia se fez cinza e triste
e consigo pobres almas labutam pela existência
Nas fábricas
o som das máquinas reduz o soldo
e amplia o saldo
Nos escritórios e gabinetes atapetados
homens em alvas roupas e togas alinhadas
riem à vida que levam
e brindam as metas alcançadas
Novos tempos!
bradam sob o manto protetor
da egrégia casa divina
e o habitante mor abençoa a todos
Porém,
ao som de estrondosos passos
rua e vielas se enchem de almas
prontas à luta
De punhos ao lato e gritos de guerra
rompem barricadas e a porta da divina casa
Estava vazia
os inquilinos abandonaram o ninho
que séculos ocuparam com bençãos e lisonjas
E o bebê
sob a proteção de todos
crescerá forte e sadio