Numa tarde bem agradável, o sábio observou uma jovem inquieta se aproximar.
_ Sábio, eu preciso te fazer uma pergunta!
_ Pode fazer, querida!
_ Se existisse algo capaz de apagar todos os problemas, o que seria?
Com uma ternura profunda, o sábio sorriu e respondeu:
_ Uma rosa.
_ Como assim, sábio? O senhor está afirmando que uma rosa faria cessar qualquer problema? Como pode isso?
_ Sim! Basta uma rosa e ninguém mais permanecerá sofrendo.
_ O senhor não me convenceu.
Sentados num banco confortável, o sábio esclareceu:
_ Imagine um rapaz namorador, um boêmio incontrolável um dia conhecendo a sua alma gêmea, uma linda moça. Os dois se casam, desfrutam as delícias que o amor verdadeiro permite. Seis meses depois, entretanto, os impulsos da boemia prevalecem, o rapaz começa a beber e farrear com diversas mulheres. Numa dessas manhãs, ele, completamente bêbado, chega em casa e não encontra mais a esposa. Lê um bilhete no qual ela diz que voltou para a casa dos pais.
_ Como uma rosa resolveria essa situação infeliz.
_ Muito fácil! Imediatamente ele correria para a casa dos sogros, de joelhos pediria perdão à adorável esposa, prometendo mudar e se tornar o melhor dos maridos. Chorando entregaria uma rosa como prova da sua sincera intenção. A esposa, segurando a flor, não impediria o deslumbramento, o abraçaria aceitando o pedido de perdão. Os dois retomariam a harmonia dos primeiros dias e seriam, conforme os finais românticos dizem, eternamente felizes. Perceba, minha jovem, bastou uma rosa.
_ Comovente, sábio! Mas ainda não estou convencida.
_ Imagine agora uma bailarina que, depois de vários anos, alcança a sua oportunidade tão sonhada. Ela obtém uma chance única. Antecedendo a apresentação preciosa, ela sente um estranho medo crescer, percebe o entusiasmo fugir e imagina desistir.
_Oh! Logo agora, sábio?
_ Chorando demais, ela observa uma rosa deitada numa mesinha. A breve visão da flor refaz a sua coragem, lavando todas as fraquezas e incertezas possíveis. Ela sai magnetizada e parece, na sua exibição, bailar nas nuvens, suscitando a admiração do público transformada em aplausos os quais não querem cessar. Mais uma vez bastou uma rosa.
_ Estou emocionada, mas ainda não tenho a plena convicção.
_ Imagine um cientista que, durante a jornada, buscou a cura de uma doença feroz. Apesar de várias tentativas, quase alcançando o êxito, sempre um detalhe ou outro não permitiu confirmar o combate eficaz e vitorioso. Viúvo, quando sua filha completa quinze anos, ele constata que a enfermidade visitou a adolescente. Conforme os seus cálculos precisos, ela tem apenas setenta e duas horas.
_ Que fatalidade!
_ A partir desse instante, ele não descansa nem sequer um segundo almejando achar a fórmula capaz de conter o avanço da doença, salvando assim a filha amada. Faltando sete horas, ele conclui duas tentativas que prometem demais, no entanto elas fracassam.
_ Oh, sábio! A filha morrerá?
_ Desesperado o cientista sai andando a esmo e vem parar numa praça igual a essa. Sonolento, pálido, esgotado, quase desmaiando, olhos vazios, ele vê uma rosa. Aquela imagem não traz a fórmula mágica, entretanto dá ao nobre homem a motivação derradeira. Restam poucas horas, ele não sabe como iniciar um novo teste, todos os cálculos já foram efetuados, as variáveis foram verificadas de forma exaustiva, as duas últimas experiências encerraram as alternativas mais promissoras, porém algo lhe faz querer tentar outra vez. Se necessário, ele tombará buscando a cura.
_ Ele conseguiu?
_ Faltando somente três minutos, a filha, internada num quartinho do laboratório, o encontra morto no chão. Ela veio lhe dar a alegre notícia da cura. Nas seis últimas horas, após o ânimo que a rosa lhe deu, imediatamente o cientista aplicou outra injeção. Era uma tentativa desesperada. Havia o risco de acelerar a partida da filha, mas o amor paternal falou mais alto. Ele quis ousar optando por uma combinação diferente de substâncias. O organismo da filha inconsciente nenhuma reação esboçou. Ele seguiu aflito efetuando novos testes, buscando algo ainda não imaginado, uma espécie de milagre. A injeção, restando dez minutos, fez a pressão da menina estabilizar e facultou a recuperação progressiva do corpo. Três minutos antes do fim previsto, ela retomou a lucidez e correu para abraçar o pai.
_ Por que ele morreu?
_ Ele já estava há quase três dias sem alimentação e sono. O corpo não resistiu.
_ Sábio, nesse caso a rosa não fez o problema cessar.
_ Como não? A última injeção aplicada foi inspirada após ele visualizar a rosa e retomar as tentativas apesar de não ter mais o que tentar. Nesse caso a flor inspirou a cura da doença, no entanto a morte dele foi o resultado do desgaste inevitável o qual terminou sendo um lindo sacrifício objetivando salvar a filha. Sem o estímulo da rosa, morreriam as duas pessoas.
_ Mesmo assim essa história acabou triste.
_ Ela não acabou ainda.
_ Como assim?
_ Chegando ao céu, um anjo surgiu, o cientista logo indagou se a filha escapou. O amigo celestial nada respondeu, apenas lhe deu uma flor. Adivinhe qual?
_ Já sei! O anjo entregou uma rosa ao cientista.
_ Sim! O anjo quis destacar a formosa flor, a fonte da motivação e agora também o símbolo do sucesso concretizado.
 
O sábio, num movimento rápido, ofertou uma rosa à moça.
Ela agradeceu e saiu andando.
Não existiam mais inquietações, a jovem agora seguia serena e convicta. A lição tão magnífica tinha sido compreendida.
 
Desfrutando o perfume da sublime flor, ela sorriu.
 
Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 25/12/2013
Reeditado em 25/12/2013
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