Palavras de Um Afogado

O sorriso treme.

Será nervoso? Será vergonha que a devida culpa lhe inflige? Será cocaína?

Os teus olhos Estão chupados, púrpuros. Parece, agora, que tem pele em excesso neles.

- Será que você enxerga como os olhos tão lá no fundo nesses ossos?

O começo leva ao fim, e o fim a um desespero parcimonioso por tempo indeterminadamente longo. Brutalidade digna de uma constante devastação temporal atípica: Linda e renovadora. Avassaladora. O recomeço mostra que ninguém muda mesmo podendo fazer diferente. é tudo estático e equilibrado. Uma mentira que não é falsa é uma constante verminose que devora confiança e defeca insegurança numa cabeça fértil mas de certa forma vazia, por não estar repleta das patologias modernas que infestam escritórios, bancários e pessoas que creem que um maço de papeis numerados comprovam seu valor como pessoa.

Pensei então: Por que evitar as pílulas se a minha covardia não me protegeria do ilícito sem me plantar uma dúvida em questão ao que seria certo ou errado? Ou sem germinar um desejo desenfreado por partir em busca desses aromas proibidos que se escondem nas vielas, nos becos, no pescoço das erradas e em seus lençóis, nas mesas de bebida e carteado?

A ninguém nada disso pertence mas todos os temos. É um caro que sai aparentemente gratuito, de direito. É um barato que não tem preço, que ninguém pode pagar. em mim estará contido mas o problema é que não me contenho pois quebro meu limite pois sou pouco louco, sou souto. E me espanto mesmo com tal , pois choro, rio, dou, cobro, peço, humilho, rastejo e voo beijando pés e mãos de donzelas e senhoras e meretrizes, em cabarés em casa de família, ou nos botecos dos viciados do bilhar. Meu semblante molda se como a pele de um camaleão. não tem lugar onde eu não passe a impressão de um sujeito de bem. E assim eu vou a qualquer lugar onde tem polícia, traficante, puta, família, criança. Ora com cheiro de cravo nos lábios e blusa aberta em botão, ora num fundo de poço, com um cigarro e um tostão pra tomar a primeira cerveja do dia no mesmo boteco de todo dia, pois lá, é certo um pendura se a conta der alta.

Sempre tenho um canto pra voltar

por obséquio...

Deixe me passar...

Não tenho hora pra voltar

Gostaria que assim não fosse.

De alguma forma, morrer é pecado

se não eu matava um

Mas sei que seria dificil

Que dor pode ser maior que a dor que não dói

que incomoda, latejando, pulsando

a síndrome do "e se" Purulento que inflama as lágrimas

mesmo as dos crocodilos

mesmo a dos que já não amam

e a dos que amam

inflamadas ainda mais

Pensando assim olhei o mar.

Estava Cinza, Agitado.

O Sol fumava um cigarrinho atras de umas nuvens espessas e robustas que lhe davam cobertura. não passava um só raio pra iluminar a areia úmida e sem conchas da praia que seria meu jazigo. será que eu iria boiar ou afundar? gostaria de boiar para ir navegando até fugir desse fumacê que o sol bafora pra cima.

Decidi nadar em linha reta como se fosse lá no horizonte dar uns tapas com a celebre estrela celeste que já tava até caindo de tanto baforar. Pelo menos, nadaria até dar câimbra, cansar os braços, parar e boiar.

daí, tomar fôlego e nadar, nadar, nadar

pro fundo, pro fundo

sentindo a água ficando mais e mais gelada

a cada braçada pro fundo

cada vez mais fundo, mais escuro

cada vez mais livre de mim

cada vez mais leve

cada vez menos frio,

cada vez menos dor

cada vez menos ar no sangue

menos sangue no cérebro

Uma onda no fundo do mar

Um mar no fundo de um poço

mas tudo que há é o mar para esse moço

é o que lhe dá o que ele pede

e não o que ele precisa

é o que lhe dá a liberdade

o respeito e o direito

de decidir por sí só

afogar seus sofrimentos

sem ter que pedir

Por Obséquio.

Fui...

Vejo um peixinho no mar

vejo uma rocha pra lá

coral, coral

corais

o que faltam não são cores

o que falta é mais luz

mas agora...

Já não há mais ar

logo,

Não haverá mais sede

não haverá mais fome

não haverá mais dúvidas

nem mentiras falsas

nem verdades suspeitas

nem olhos vermelhos

nem marejados

nem tom desbotado de alegria

não haverá mais sal na terra

e a grama florescerá como uma rosa branca

e o fundo do mar

será sempre o meu fundo do mar

Oliveir Allarcehc
Enviado por Oliveir Allarcehc em 24/12/2013
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