Delírio
Eu tenho um delírio
e nele as palavras se encontram
diante de um poço,
um cratera
algo brusco e antigo
aberto, como boca imensa, no chão.
Olham-se sem um dito
a palavras se encontram ali
manuseiam nesse poço-cratera
águas antigas, de lugares fundos
mineralíssimas testemunhas
de coisas que mudam apenas no meu coração
que queimam calmas,
em lençõis freáticos de anseios,
da vontade imensa de amar,
de ser entendido
corrigido
e discutido
No meu delírio meu coração se abre
girante
perfumoso
fragrante de esperanças,
de paciências que acreditam,
de lutas sorridentes e silênciosas,
E refletido no dia
propaga coisas simples
de desfalecer as vontades
em palavras compartilhadas
Esse delírio quer ter asas
e lançar-se nas vontades
sem medo de ira ou perseguição velada
ou interpretação erronea
maniqueísmo as avessas,
para nesses lugares,
secos,
mas ainda férteis de sono
mostrar ser possível
viver,
sonhar trabalhando,
resgatar para as palavras
as vidas cinzas
a margem
das engrenagens podres