CONSTRUINDO UM FELIZ NATAL

Na solidão da noite saí para a rua,

pensando em Jesus Menino

e vi o menino de rua olhando para meu coração

com olhos cheios de medos e esperanças...

Mas eu estava com pressa, iria ao shopping,

queria ver Papai Noel, o bom velhinho e...

Dei de cara com aquele velhinho solitário e cansado,

também a olhar para o meu coração,

olhos medrosos, mas ainda mantendo a esperança...

Voltei para casa, abri o armário

- quanta roupa sem uso há anos!

Que farei com tudo isso?!

De repente senti sobre mim

o olhar daquela mulher que sempre encontro

sob a marquise da padaria

aconchegando ao corpo o seu bebê seminu.

Ela me fitava, olhos medrosos e mão estendida

na esperança de uma esmola.

Foi ao sentir na minha frente

aqueles olhos cheios de medos e de esperança

que descobri a quem pertencia tudo aquilo

que abarrotava o meu armário.

Cobertores, lençóis, casacos cheirando a naftalina,

não são usados há tempos,

alguns nunca foram usados

por falta de oportunidade;

os olhares, os corpos trêmulos lá fora me dizem

que são seus legítimos donos,

eu não tenho o direito de reter o que não é meu.

Nada me pertence, negar isso a eles é roubá-los.

Abro minha despensa.

Vinhos, guloseimas, alimentos

prestes a terem prazos de validade vencidos,

pois estocados há meses

para que nada falte à minha família.

Senti a força do chamado dos que na rua

aguardam um milagre de Natal,

um pouco de alimento para saciar sua fome inadiável.

Fiquei envergonhada,

perturbada resolvi ir à igreja rezar um pouco,

precisava espairecer apagar tais visões de minha alma,

já que não posso mudar nada, o mundo é assim mesmo!...

Só posso é rezar pelos que padecem e rezei,

conversei muito com ELE.

Diante do presépio ali adornado me expliquei, perguntei.

Em resposta senti de novo no coração

aqueles olhares dizendo-me

“você pode construir um Feliz Natal”.

Como vou começar a construir esse Feliz Natal?

Que tenho de fazer?

De repente fiquei frente a frente

com aquele rapaz que procurou Jesus

desejando segui-lo,

mas teve que voltar para casa triste

porque possuia muitos bens.

Aí aprendi que o desapego é o caminho ideal,

a ferramenta indispensável

para a construção de um Natal Feliz.

Resolvi ir à luta!

Voltei-me para a realidade da minha vida.

Parei alguns segundos diante do meu espelho

que me mostrou uma enorme interrogação.

E passei a olhar para minha empregada,

para o velhinho,

para a criança de rua

e para a mulher do bebê seminu, como partes de minha vida,

pela primeira vez os senti de fato no meu coração,

percebi o quanto são

diletos convidados do aniversariante do mês de dezembro

e experimentei um grande afeto para com esses meus irmãos.

Finalmente eu estava começando a construir

um Feliz Natal!...

Eglê S Machado