Bodas de Papel
para a poesia que me escreve
minha esposa Micaele
Enfim, nós. Atados bem firmes por um nó que não desata. Bênção de nossos pais e do Pai. Sim, santificado seja o lar que se inicia. Olhar o passado de duas vidas distintas. Por meandros de um rio, chamado vida, a poesia encontra a rima. E o poema se forma, sem seguir nenhuma forma, sem pretensão de ponto final. Suspenso no dia em que as mãos tornarem ar. Contínuo, então, em outro lar.
Respiro agora é pulmão pulsante de dois peitos. Com mel nos lábios alçamos voo sul. O destino é uma lua que orbita um gramado. Nele deitar, olhando um teto de cinema, cujas cenas se representam na cama. Verdadeira viagem sem outono, só verão e primavera, um sonho. No vinho de nossos lábios, bebemos o sabor do cacau que nos derrete. O caminhar de mãos dadas por ruas que o tempo nunca esquece. Outra viagem, essa presente, por lugares tão belos e aos olhos tão jovens por serem tradição de velhos.
A entrada primeira em nosso lar. Aconchego que teremos pós-trabalho devoto às letras que nos vivenciam. No quintal, nosso jardim em pleno ar; prima flor, o girassol que raiou nossa morada. Tevê na sala, visitas, o sofá; o sabor da cozinha paladar. No escritório, nossos livros espalho. Onde encafurno, perdido entre páginas, das quais você me resgata com um folheio. Banho do corpo molhado que se ama em todos os cantos e o mais na cama. Cheiro bom, cheiro humano.
Passeios de enlevos por matas roçadas por parentes. Frescor em rios que esquentam nossos ventres. A fumaça de uma brasa de uma lenha de fogão. O gosto da terra orvalhada e um toque de contemplação. Viagens cujas vias agem em nossas peles, traçando imagens pétreas, guardadas no álbum da lembrança. Assim, apadrinhar fomos aqueles que também desejaram o matrimônio.
Entretemos nossos corpos e mentes um no outro. Saímos da rotina na casa que nos abriga. Encontramo-nos, quando perdidos, nas palavras que nos detínhamos. E na sequência o perdão de dois seres criados para o enlace. Tudo simples ato de limar, uma escultura de mármore mais que Carrara, de pedra mais que rara. Uma modelagem sem fim, cuja rigidez está no toque macio de um beijo. Assim, despertar do sono noturno ao lado do sonho puro.
Hoje, a haste do outro ano a deste se encontra, nesta data, para atar o primeiro aniversário da aliança. O primeiro de um passo largo rumo à esperança magna de um céu. A história que deixamos com tinta viva neste papel. A recordação de cada dia esponsal, riso amplo ou contido. Em cada página desse papel o sempre novo marido e mulher se faziam. Travessia.
Sim, a vida agora tornou sentido, a vida agora tomou cor. Dois corações que unidos bombeiam pelas veias do enlace um para o outro o único alimento real da existência humana: amor.
seu Márcio
Ano I - 15 de dezembro de 2013.