[Essa tardia caminhada com Proust]
Como posso eu ter certeza da imobilidade das coisas, principalmente eu quando estou ausente do lugar onde elas estão... O que me garante que todas as coisas inertes que se toca é mesmo sem mobilidade "própria"?
Em criança, tarde da noite, eu ia para cozinha e acendia a luz incandescente do pendente cheio de bosta de mosquitos... Olhava a lâmpada até quase a ofuscação total dos meus olhos... um pouco depois, e agora, eu olhava compulsivamente, intensamente o brilho nos alumínios silenciosos... imóveis — imóveis mesmo?! Será? Eu jurava que alguma das panelas tinha acabado de girar um pouco, e agora, zombando do meu juízo, irônica, piscava para mim! Ah, amo pensar eventos sem causa! Ás vezes, odeio causas e quem fica procurando causas, sem deixar ser aquilo que está vendo!
Bem... mas e então, as coisas [inertes] se movem por si só... ou não? É Proust quem me responde, mas me deixa na mesma, isto, centra a resposta em mim mesmo [ou não?]:
“A imobilidade das coisas que nos cercam talvez lhes seja imposta por nossa certeza de que essas coisas são elas mesmas e não outras, pela imobilidade de nosso pensamento perante elas.”
[No Caminho de Swann, Combray, trad. Mário Quintana]
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[Desterro, 16 de dezembro de 2013]