Arritmia

Tem um cântico pesado e pagão enroscando-se nos pés das cadeiras e difundindo-se pelas casas de dezembro, um cântico de calor e de sufoco tão denso que asfixia o espírito e tão quente que escurece a pele. Tambores em ritmo de sangue encontrando eco no peito, um'euforia crescente e desejo de romper as correntes. Cântico impronunciável, aquilo que se sente e não se diz. A pulsação eterna que impulsiona o éter do mundo, do caos; um cântico que é o abstrato, vibração eufórica do espanto de se existir em corpos, prisões. Hoje somos primordiais e somos pilares e bases do verão de tudo, e tudo é levemente suspenso nos vapores dos mares e mortes. A sustentação é ilusão, bem como a ordem.

José Pinotti
Enviado por José Pinotti em 19/12/2013
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