Oeste das Mangas

A menina banhada em sumo de mangas de fogo sob a mangueira de novembro, açucarada e ácida e os cabelos na cara, manchada de amarelo fim-de-tarde, manchada de fogo do sol. A menina amorenada de verão, a menina trepada na jabuticabeira que se enroscava na copa da mangueira de tão juntas, a noite e o dia entrelaçados, o emaranhado de galhos como a tarde e a madrugada, o outono e a primavera, a fruta preta como a redoma noturna e a amarela os veios do sol. As folhas secas no chão eram os frutos do céu e a menina era a filha da terra. O sol chove a fertilidade do solo, apodrecem e unem-se à terra os restos, a morte, num desfazer intrínseco ao fazer, manga podre e seu cheiro são inconfundíveis e epifânicos, as verdades brotam melhor em solo que já viu mortes.

José Pinotti
Enviado por José Pinotti em 19/12/2013
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