POR ISSO ESCREVO

Estas a me perguntar

Por que escrevo...

Escrevo!

Para falar comigo mesma...

Mas você é enxerido

E me vem ao pé das letras

Ler os meus escritos...

Não é fácil escrever,

Ou rimar o pensamento...

Muito menos entender

Que nos traços de cada verso

Desencontro-me de mim mesma...

Cada verso que escrevo

E na folha deixo escrito

É como se o que leio,

Nunca de mim tivesse saído...

Se faço graça com as palavras

Ou se arranco da alma

Os gemidos,

Deixo o eco de mim mesma

A propagar-se pelo infinito...

Em cada traço que registro

E releio o que foi escrito

Desconheço-me de mim mesma,

Entrego a outros meus sentidos...

Se falo do amor,

É por ele ter vivido

E me distraio nas palavras

Aquilo que estava escondido...

Se descrevo a saudade,

É por que ela foi sentida

Ao naufragar nas lembranças

Fragmentos de minha vida...

Se do medo faço prosa,

Disfarço a insegurança

Por um dia nessa vida

Ter perdido a esperança...

Se descrevo a loucura

E as fases insanas

É por que na busca do equilíbrio

Acabei em descompasso...

Se na dança das palavras

Crio rimas e poesias

É por que na alegoria da vida

Nada teria sentido

Se não deixássemos na forma das letras

A nossa essência...

Nessa dança da escrita,

Escrevo em vários idiomas

A palavra VIDA...

Se das letras faço obra,

E das palavras busco canção,

São cores que vem da alma

Como o branco do algodão...

Se nas fases da vida,

Inspirei os meus escritos

É por que vejo na existência

As razões da criação...

Ao isolar-me em minha obra,

Me dou mais uma chance

De reescrever a minha historia

Como se fosse apenas figurante...

Já não sei se falo doce

Ou se firo os instintos

Mas ao escrever arranco do peito

A palavra solidão...

Salvo no papel minha intimidade,

Com palavras infinitas,

Aquilo que habita minha

Caverna humana...

Na cadencia do lápis

E no deslize das mãos

Vou deixando por onde passo

Um pouco de ilusão.

Por isso escrevo!