Solidão Resoluta
E agora se sente a solidão, momento desesperado de horas contadas. Saudades de ter companhia e mesmo com companhia ter saudades. Peito vazio, angustiado, dos sentimentos que antes lá jaziam e repentinamente lhe abandonaram. Carta escrita, sem pé nem cabeça, sem motivo, sem nada a revelar e nada a perder. Com lindos movimentos resolutos movidos intuitivamente, como quem não se dá ao direito de perder a compostura. As asas cortadas de um pássaro, antes que as de um anjo, que não tem mais o direito de explorar os céus. Não que não possa, mas não quer, não sente nada. Não tem desejos, vontades e deixa a vida escapar-lhe por entre os dedos. Para onde as ambições fugiram? Como se tal pergunta não causasse grande aperto no coração. Como a ausência de sentidos ocasiona tantos sentimentos quando se pensava que eles não mais se faziam presentes. Esta é a lágrima que cai e é derramada com um gosto azedo, mais azedo que o mais azedo dos gostos. A luta da alma, no entanto, segue enquanto pode, até que se quebra. Choca-se contra a parede e se quebra em milhões de pedaços, que demandam tempo e trabalho para serem reconstruídos.